quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Metodologia ativa


Texto escrito por Gabriel Silva

Todo profissional que se preze deve conhecer as possibilidades do método a aplicar em suas atividades enquanto educador. Embora muitas vezes confundido com estratégias, a metodologia deve ser clara e sempre reanalisada com frequência para buscar êxito no processo de ensino aprendizagem.

A metodologia apresentada aqui é a “ativa” da qual de fato consiste em ativar o aluno ou o educando ao protagonismo das aulas de modo que o professor sai de cena e o aluno se torna o centro do aprendizado.

Metaforicamente falando, a metodologia ativa comparada a uma peça teatral busca que o aluno se torna o autor principal e o professor um telespectador. Assim como em um espetáculo, tão importante quanto o conteúdo apresentado é o educando se sentir peça viva e ativa no processo de ensino aprendizagem.

Mas então, como conseguir aplicar esta metodologia nas aulas?

O importante neste processo é que o conhecimento ocorra de maneira espontânea, isto é, que os alunos aprendam ao ensinar, aprenda de acordo com o compartilhamento das idéias dentro do contexto coletivo. Uma das possibilidades é estimular pesquisas em grupos, exposição de opiniões sobre determinados conteúdos apresentado pelo profissional (filmes, livros, séries, debates, entre outros), promover discussões com a turma, rodas de conversas, saber responder todos os alunos de maneira igualitária sem que menospreze suas visões. De maneira geral, os alunos devem aparecer mais que o próprio professor durante as aulas.

Valéria Vernaschi Lima (2016) relata:

As raízes da utilização de metodologias ativas – MA na educação formal podem ser reconhecidas no movimento escolanovista. De modo geral, são consideradas tecnologias que proporcionam engajamento dos educandos no processo educacional e que favorecem o desenvolvimento de sua capacidade crítica e reflexiva em relação ao que estão fazendo. Visam promover: (i) pró-atividade, por meio do comprometimento dos educandos no processo educacional (p. 9).

Este tipo de método traz por objetivo, além de promover alunos mais participativos e autônomos a ideia de que quem ensina aprende mais daquele que apenas ouve, vê ou lê.

Partindo do pressuposto de uma das frases marcantes de Paulo Freire (1997) que diz: “quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. Logo se chega à reflexão que quando o próprio aluno ensina aquilo que aprendeu está fixando ainda mais o conhecimento em sua memória. De modo que o profissional se torna apenas um intermediário deste processo entre conhecimento e educando.

Portanto a metodologia ativa, mais que apenas uma maneira de ministrar as aulas é uma ferramenta que se bem administrada e aplicada pelo profissional pode estar no caminho correto para uma educação eficaz no que se diz respeito ao conseguir explorar o melhor de cada um de seus alunos.



Gabriel Silva é licenciado em educação física e idealizador do Projeto Joga Mais que a partir da prática do futsal procura contribuir na formação de crianças e adolescentes de Ubatuba/SP.


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 


www.ievale.com.br


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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O ensino do futebol com e para a ética


Texto escrito por Igor Moreira 

O presente ensaio busca refletir sobre o ensino do futebol em uma perspectiva ética, se aportando, mas não de forma aprofundada no conceito aristotélico. Para Aristóteles a ética está relacionada com a boa conduta humana, o bem do homem e de sua vida. O homem foi feito para ser feliz (eudaimonia), a felicidade é uma vida com sentidos, que tem funções (télos). Uma vida feliz é uma vida racional, a razão faz parte da natureza humana, é o que nos difere dos animais irracionais.

A ética é a minha conduta perante ao outro, é a intencionalidade na busca do bem comum, é o que cantou a banda de Rock, Capital Inicial, “o que você faz quando ninguém te vê fazendo”. E nós professores precisamos educar com ética e para a ética, pois nosso caráter é moldado pelos nossos hábitos e costumes.

Com base no descrito não se pode incorrer no erro em dizer que existem pessoas antiéticas ou sem ética, esse valor adentra a esfera individual, cada um tem a sua, o que se têm são pessoas com éticas que não coadunam com o entendimento aristotélico. 

E no futebol encontra- se diversas manifestações dos jogadores que têem sua ética oposta à busca de uma boa conduta humana. A busca eudaimônica é construída a partir de atos ilegais (moral) e valorizada por muitos, em especial  narradores esportivos, que sob a égide do “jeitinho brasileiro” enaltecem atos ilícitos, como o “cavar” de uma falta.  Soa como heresia ações como a do jogador Rodrigo Caio, quando defendia o São Paulo Futebol Clube, propiciou um lance de “fair play”. Sua interpretação sobre situação que estava envolvido,  foi pautada em sua ética fazendo com que assumisse ser o responsável pelo contato físico com o goleiro da sua equipe e não o jogador Jô, da equipe do Sport Club Corinthians Paulista, como havia interpretado o árbitro.  

Na rua a ética no futebol se faz presente para a uma vida racional. Não precisa ninguém dizer se a “bola saiu” ou se foi “mão’, ou se foi falta; as organizações entre as crianças são pautadas nesses preceitos permitindo com que as brincadeira, jogos, ocorram de forma satisfatória, e quando um participante começa a divergir dos outros, com base naquilo que ele se permite fazer, ações são realizadas para coibir a impertinência desse “contraventor”.

E quando esses meninos saem da rua e buscam espaço mais formal de ensino do futebol, por vezes se deparam com outras manifestações éticas que não encontravam no seu espaço não formal, como exemplo, quando esse para o lance porque seu braço foi ao encontro da bola, aquele que deveria educar com ética e para ética no sentido aristotélico, para a aula e diz: se eu o árbitro não apitar não para. 

O esporte em geral é uma grande ferramenta de ensino de valores sociais, e pensar a formação do sujeito via cultura corporal de movimento apropriando- se da maior paixão nacional, pode ser uma combinação frutífera para construção de uma sociedade melhor.  

Para tanto se faz necessário que o professor conduza suas aulas alicerçadas por preceitos éticos, cooperativos, que a cidadania se faça presente, entre outros valores baseando- se nos princípios pedagógicos de João Batista Freire, em especial o “ensinar mais que futebol a todos”. 

Pensar o ensino do futebol, em uma perspectiva de jogo, permeado pelo bem comum, para que haja aprendizado da modalidade, a partir da ética de Aristóteles, buscando a eudaimonia, para que realmente atinja o télos. Segundo Freire

O jogo é (...) uma das mais educativas atividades humanas (...) Ele educa, não para que saibamos mais matemática ou português ou futebol; ele educa para sermos mais gente, o que não é pouco”(FREIRE, 2002, p. 38).

O ser mais gente é ter uma vida racional, que o bem comum prevaleça em detrimento aos interesses particulares, uma vida de funções e feliz é uma vida ética, e sua construção pode ser mais prazerosa se vier através da “bola”. 


O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC. 


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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Os desafios do professor no contexto de ensino do esporte


 

Texto escrito por Téo Pimenta

O século 20 é marcado por profundas e rápidas transformações, acentuadas pelo desenvolvimento tecnológico, processo de urbanização, capitalismo e globalização gerando impactos significativos que são sentidos e sofridos em todas as áreas, inclusive, do ensino do esporte.

O professor inserido no ensino do esporte tem como desafio investigar variadas formas de organizar, sistematizar, aplicar e avaliar todo o processo pedagógico e tratar o esporte de forma pedagógica. Dentre as propostas, uma que destacamos é relacionada a pedagogia do esporte que trata-se de colocar o indivíduo como o elemento central no processo de ensino aprendizado, parece óbvia esta afirmação, mas em muitos casos, sabemos que esta não é a preocupação prioritária do professor. Esta perspectiva pode apresenta-se como algo diferencial para o seu método de ensino.

Desde a década de 90, a pedagogia do esporte vem ganhando destaque e emergiu como área de conhecimento da educação física. A pedagogia do esporte procura estimular o profissional de ensino do esporte a buscar pela superação de métodos tradicionais de ensino nas suas práticas pedagógicas cotidianas e questioná-las constantemente.

Com o aumento crescente das discussões relacionadas a pedagogia do esporte, emergiram possibilidades reais, surgiram novas propostas e aprimoram os métodos existentes de ensino, neste sentido, os avanços como área do conhecimento foram significativos, um dos desafios desta área seria aproximar-se do fazer prático, vale ressaltar, isso é o que se deseja e espera, que o conhecimento seja acessível ao professor e possa contribuir no seu dia a dia. A sua intenção é apresentar e propor reflexões de novas e variadas formas de ensino e aprendizagem do esporte, nos diferentes contextos de educação, independente deles serem, formais ou informais. Como as outras ciências do esporte e da educação física está inserida no processo histórico, social e cultural do fenômeno esporte, desta forma, evoluiu e vem viabilizando propostas e métodos que possibilitem a construção e criação de métodos com características diferenciadas, neste sentido, fornece subsídios para o profissional repense e revise suas técnicas e formas de ensinar o esporte, desta forma, podendo contribuir significativamente na formação esportiva.

Acreditamos ser pertinente para a formação profissional, em especial, os professores que procuram viabilizar o esporte como meio educacional, uma reflexão e avaliação constante das suas práticas cotidianas. Desta forma, deve procurar construir propostas e (re)pensar todo o processo pedagógico de ensino do esporte, buscando superar métodos tradicionais e aplicar procedimentos pedagógicos adequados para o ensino do esporte, sobretudo que visem colocar o indivíduo que aprende no centro do processo de ensino e aprendizado.

Na educação física atual surgiram vários métodos de ensino ao longo do seu processo histórico, cabe destacar, que torna-se evidente a preocupação atual com o envolvimento do alunos de forma mais participativa.

Por fim, apontamos que os profissionais inseridos no contexto de ensino do esporte terá como desafio buscar realizar suas práticas com maior embasamento científico e atenção nas demandas cotidianas do seu aluno, desta forma, é pertinente incorporar conhecimentos de outras áreas para atender as reais demandas sociais da comunidade e ter compreensão da complexidade humana. Outro ponto importante para o seu avanço profissional é que esteja disposto a apresentar, ampliar, discutir e debater, de forma aprofundada, as recentes contrições do conhecimento e propor novas formas de organizar, sistematizar, aplicar e avaliar o ensino do esporte nos diversos espaços de educação, podendo ser, formais e informais.

 

Téo Pimenta é mestre, professor no curso de educação física da Faculdade Anhanguera de Taubaté e diretor do IEVALE. 


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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Esporte herói ou Vilão




Texto escrito por José Martins Freire Júnior 

De acordo com o PCN (1998), as diretrizes políticas para educação física nos anos 70 eram baseadas em um modelo piramidal, que tinha como base a educação física escolar e o desporto juvenil. No segundo nível da pirâmide, encontrava-se a busca pela melhora da aptidão física da população urbana, que ficava sob a responsabilidade da iniciativa privada sendo visto como o desporto de massas e no topo da pirâmide encontrava-se o desporto de elite.

Nos anos 80, este modelo passa a ser contestado, já que não colabora para que o Brasil se torne uma potência olímpica ou mesmo aumente o número de praticantes de esportes da elite; com isso ocorre uma crise de identidade da área, gerando uma mudança expressiva nas políticas educacionais. Com relação às aulas de educação física escolar estas passaram a ser trabalhadas nas primeiras séries do Ensino Fundamental com o objetivo de desenvolver aspecto psicomotor do aluno e com isso retirar da escola a função de promover o esporte de alto rendimento (BRASIL, 1998).

A tradição cultural nas aulas de educação física tem sido, ao longo dos anos, muito perversa com alunos que são desprezados durante a passagem pela educação básica, pois não atendem aos padrões motores desejados e por muitas vezes tornam-se adultos que possuem certa mágoa em relação as aulas de educação física escolar. Pois ficaram à margem das atividades propostas nestas aulas e infelizmente não possuem ou mesmo não desenvolveram a autonomia para usufruir da cultura corporal de movimento. Com isso até hoje não conseguem se envolver em práticas esportivas por não acreditarem na capacidade própria de participarem e também por não reconhecerem a importância deste envolvimento (DAOLIO, 1996).

Pode-se perceber que o esporte praticado por crianças e adolescentes nesta fase de desenvolvimento, pouco difere do modelo esportivo de alto rendimento praticado pelo adulto. As diferenças são percebidas apenas na diminuição do tamanho da bola, da quadra, do tempo de jogo, entre outros aspectos.

Contudo, há as atitudes condenáveis, como: insultos da torcida e de técnicos, passam a fazer parte desse meio, mesmo na presença de crianças. Outro agravante são os treinamentos que consistem na realização e repetição de tarefas exaustivas similares ao modelo adulto, tendo como foco os resultados positivos nas competições. Parece que tais condições também são encontradas no ambiente escolar, exemplo disso, são as equipes de competição, formadas e selecionadas durante as aulas de educação física escolar. Quando isso acontece, a intenção de ensinar o esporte a todos e que todos o pratiquem deixa de existir para dar oportunidade para a busca dos melhores (KORSAKAS; ROSE JÚNIOR, 2002).

Com relação a situação descrita, podemos indagar algumas possibilidades para entender os motivos que ainda levam as aulas de Educação Física terem como fim o rendimento esportivo: concordando que o esporte, mesmo dentro da escola, é o retrato fiel da sociedade em que vivemos.

Por tanto, ele se desenvolve de forma excludente, competitiva; a Educação Física escolar, como o esporte, é relegada a segundo plano, diante as autoridades que gerem a nossa sociedade, no caso da escola, pela a equipe de direção, na qual só se consegue um destaque quando se chega com troféus conquistados em disputas entre escolas. Disputas que em muitas vezes são pautadas por violências, humilhações, desrespeitos entre outras situações calamitosas. Costumeiramente é só nesse cenário, na vitória em torneios, que o profissional de Educação Física é “enxergado” pela unidade escolar.

De acordo com o estudo de Darido (2004), foi possível perceber que nas aulas de educação física escolar apenas uma parcela da turma participa efetivamente nas atividades propostas pelo professor e, na maioria das vezes, estes alunos são os mais habilidosos. Há um aspecto intrigante, pois muitos professores ainda estão fortemente ligados a perspectiva esportivista e por este motivo, acabam valorizando os alunos com melhor desempenho nas aulas e colaboram para o afastamento daqueles alunos que necessitam ainda mais de estímulos para a participação nas atividades, gerando assim um número maior de alunos dispensados ou que simplesmente não participam das aulas.

O objetivo não é remover o esporte do conteúdo curricular das aulas de educação física escolar, mas sim desenvolvê-lo de uma maneira diferente, dando um novo enfoque e assim assegurar que os alunos compreendam o esporte a partir de suas origens, evoluções e possibilidades de atuação. Também é importante desenvolver a reflexão sobre as inúmeras dimensões culturais relacionadas ao esporte e que são fontes de aprendizado, assim como os padrões de beleza impostos pela mídia, os conceitos de saúde, as políticas esportivas e as formas de discriminação presentes neste meio e na sociedade (BARROSO; DARIDO, 2006).

O profissional de Educação Física em seu campo de atuação profissional, tem como obrigação possibilitar seus alunos as mais vastas experiências motoras possíveis, e essas experiências vêm através das inúmeras possibilidades que a disciplina em questão oferta, entre elas o esporte, entretanto é importante que em sua prática, o profissional construa conhecimentos teóricos com os discentes das atividades que serão desenvolvidas e não somente “jogar por jogar”. Esses conhecimentos, no caso específico do esporte, podem estar no campo da história, na evolução da modalidade, nos benefícios biológicos, nas contribuições sociais, entre outras infinitas possibilidades que constroem o campo do saber.

Acreditamos que se o esporte foi desenvolvido na escola como possibilidade de formação de sujeito crítico-emancipado e autônomo, construtor da cidadania, crianças e adolescentes que sejam “indiferentes as diferenças”, que a escola e os professores possibilitem uma Educação Física de qualidade com quantidade, pois qualidade sem quantidade é privilegio, tudo isso através do puro prazer que a pratica esportiva nos traz, assim podemos afirmar que o esporte é herói.

Em contrapartida, se o esporte na escola for pautado pela segregação, exclusão, tendo como o maior objetivo, a competição, privilegiando os mais habilidosos em detrimento dos menos, uma prática na direção da submissão de seus alunos, sob o olhar que a escola é o local de formação de possíveis atletas, nesse cenário pode-se dizer que o esporte vai para o lado vilão da história.


O professor José Martins Freire Júnior é mestre em educação física e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC.


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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O poder do brincar



Texto escrito por Gabriel Silva

"As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas nem tocadas. Têm que ser sentidas com o coração". Helen Keller (2015, p. 63).

Você sabia que a população Dinamarquesa fora considerada a mais feliz do mundo por mais de quarenta anos consecutivos, segundo a OECD (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)?

Quando investigado os princípios destes números tão significativos, fora descoberto que o brincar foi um dos principais fatores a estes resultados. 

Na formação das crianças, as brincadeiras são conteúdos de extrema importância no currículo escolar dinamarquês. Aliás, na maioria das escolas e colégios infantis disponibilizam 3 (três) horas por dia exclusivo a brincadeiras. Alexander Jessica (2017).

Só que um dos segredos deles não consiste em apenas aplicar atividades, eles prezam pelo desenvolvimento da autonomia, segurança e confiança dos alunos. Isto se dá por estratégias a deixarem os alunos a experimentarem e vivenciarem os demais tipos de situações dentro da brincadeira. Desde tentar e não conseguir realizar determinado movimento até terem que resolverem conflitos internos.

O professor, neste contexto deve ter a sensibilidade de entender o momento correto de intervir nestas situações. Por exemplo: uma criança quer subir numa árvore da qual faz parte da atividade colocada pelo professor. Quando o profissional interfere e de cara já apresenta outras possibilidades para o aluno subir a aquela árvore ou até pede para que não suba, estará inibindo a construção de um ser pensante além de não possibilitar ao aluno auto entender que não consegue e que é preciso pensar em alguma outra forma ou solicitar ajuda ao professor.

Estes são alguns dos princípios que os profissionais dinamarqueses utilizam para construir adultos seguros, confiantes a autônomos.

Neste sentido, o “brincar” não quer dizer tocar violino, praticar algum esporte ou ir a uma festa organizada por adultos. O termo remete em deixar a criança livre para fazer o que quiser, com amiguinhos ou sozinhos, como bem entender, por quanto tempo for. Alguns profissionais e até pais que permitem a existência deste tipo de atividade no fundo se sentem culpados de admitir. É que no fim das contas achamos que estamos sendo professores ou pais/mães melhores quando ensinamos  alguma coisa. Brincar muitas vezes parece desperdiço de tempo quando poderiam estar fazendo algo mais “produtivo”. Porém, é perceptível que as brincadeiras sobretudo, no contexto infantil trazem grandes possibilidades no desenvolvimento de pessoas mais felizes, segundo dados na Dinamarca. 

Portanto, foi perceptível o poder que a brincadeira possui na formação da criança. Claro que aplicar brincadeiras em excesso ou focar em apenas nisso não estará necessariamente construindo pessoas felizes, mas já estará no caminho certo e com uma grande estratégia nas mãos para promover conhecimentos de diversas disciplina por meio da ludicidade.

 

Gabriel Silva é licenciado em educação física e idealizador do Projeto Joga Mais que a partir da prática do futsal procura contribuir na formação de crianças e adolescentes de Ubatuba/SP.


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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O corpo negro na Educação Física escolar


Texto escrito por Igor Moreira 

O presente ensaio tem com proposta provocar alguma reflexão sobre o corpo negro na Educação Física escolar, esse ácido caminho se depara com algumas formas do racismo, dentre eles, o científico, institucional e estrutural.

Não rara as vezes deparamos com narrativas que dizem que o negro é bom para o esporte. Falsos discursos que se aportam nas “ciências”, para “subsidiar” essas narrativas, dentre elas, que o negro é melhor na corrida de velocidade por ter mais fibras musculares tipo branca, em detrimento a corrida de longas distâncias, que requer mais as fibras vermelhas, ou retóricas que a população negra tem dificuldade com a natação, devida sua densidade corporal. 

Ao pensar no domínio dos quenianos e etíopes na corrida de São Silvestre, já invalida a questão das corridas de longas distâncias, se a premissa é falsa, a afirmação não é verdadeira. No que tange a natação não se discute o não acesso do negro nas piscinas, sendo a piscina símbolo de riqueza, a população negra está longe dessa condição. Outro ponto referente a esse esporte, é que a grande maioria dos nadadores são formados dentro de clubes particulares, como Pinheiros em São Paulo, Minas Tênis Clube em Belo Horizonte, locais de acesso a população branca, ou seja, como aprender a nadar fora da piscina?

Para esconder as estruturas racistas que permeiam no Brasil, utiliza-se de uma única ciência, a biológica e de forma equivocada. De igual forma ocorreu no mundo e no Brasil, através do racismo científico, na falácia da construção de raças, justificaram a escravidão no mundo e em nosso país. No Brasil, as teorias científicas racistas apontavam que em 100 anos, através da miscigenação, o país seria constituído só por pessoas brancas, a pureza da “raça” ariana.

Essas falácias mesmo desmascaradas continuam vigentes pelos racistas, como por exemplo, quando se estreita o negro ao esporte, com base em uma falsa ciência; essa “teoria” tem como base as atividades corporais que não necessitava do intelecto, retomando a ideia do processo de escravidão; o pensar, o civilizado, a capacidade de liderança é de domínio do homem branco.

Com base no exposto acima, adentramos ao mundo da educação formal e a Educação Física escolar. A escola por ser na maioria das vezes o primeiro espaço de relação entre pessoas fora do núcleo familiar,  não raras vezes o contato da menina , do menino negro com o racismo é  no ambiente escolar.

No artigo “O papel central da escola no enfrentamento do racismo” pelo portal Geledés, apresenta- se parte da desigualdade entre brancos e negros no sistema educacional. E sendo a escola elemento nevrálgico para qualquer mudança comportamental, discussões antirracistas devem fazer parte do cotidiano escolar.

E nós professores de Educação Física temos que valorar o corpo negro, não esconde-los no fundo da sala, ou da quadra, mas valorizar e não reduzir, “ao/a menino/a” bom/a de futebol. Enaltecer e explorar as potencialidades de um corpo que historicamente é marcado pelo enfrentamento das adversidades, um corpo cujo teor da sua melanina e dentro de estruturas racistas como a nossa, faz o espaço da rua ser seu único local de “privilégio”. 

Explorar esse corpo construindo possibilidades de protagonismo em todas vertentes que permeia a cultura corporal de movimento e a educação como todo. Um corpo emancipado que não se restringe a biologia e não adentre a lógica disciplinar de Foucault (2006).

Compreendemos a complexidade da temática, pois em um racismo institucional, pensada por estruturas racistas, inviabilizam o acesso a esse conhecimento; não nos ensinam a temática negra na escola e muito menos nas faculdades, mas em analogia e consonância com Arendt (2002, p.39) “Muitos dizem que não se pode lutar contra o totalitarismo sem compreende-lo. Felizmente isso não é verdade; se fosse, nossa causa estaria perdida”. Ou seja, nós professores de Educação Física escolar, mesmo sem um bom letramento racial, podemos contribuir na luta antirracista de forma significativa, valorizando em todas as possibilidades e potencialidades o corpo negro. Pois:

a educação possui um papel transformador e central na sociedade, de modo que, se a construção de um ensino antirracista envolve múltiplas abordagens e perspectivas, isso se deve ao caráter estrutural e sistêmico que o próprio racismo possui em nosso cotidiano. Educar para a diversidade, enfrentando as desigualdades, é um desafio histórico que demanda escuta, atenção e compromisso com a equidade. (GELEDÉS, 2020)


O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC. 


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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Estimule o protagonismo no ensino do esporte

 


Texto escrito por Téo Pimenta

O esporte se constitui como um ótimo meio para formação humana, no entanto, devemos refletir como tornar clubes e escolas em espaços potenciais para tal. Imediatamente, torna-se necessário ressignificar a ação pedagógica e redefinir caminhos didáticos-metodológicos.

Muito se discute o fins educacionais do esporte na atualidade, se compara os objetivos entre clubes e escolas e se discute as diferenças entre os dois espaços, não acreditamos que esta seja a questão central, mas destacamos, em especial, uma questão: como o esporte seria apresentado e desenvolvido nos lugares em questão?

Neste sentido, corroboramos as ideias de Daolio (1995 apud REVERDITO; SCAGLIA, 2019, p. 19) “[...] uma proposta metodológica para o ensino na educação física deve considerar a história e a cultura dos alunos, pois os movimentos corporais são culturais e detentores de significados”.

O esporte se constitui como um dos fenômenos culturais mais importantes do século 20 e que teve sua origem como possibilidade formativa para uma elite nos espaços das escolas inglesas no final do século 18, se espalhou e se consolidou para as sociedades pelo mundo no século 19 com a contribuição dos clubes e escolas, que tiveram um papel fundamental na população e massificação do esporte. 

No entanto, existem desafios, como: acompanhar o avanço do conhecimento, tanto teórico quanto prático, reconhecer as contribuições das pesquisas para ambos os campos, aproximar os estudos acadêmicos dos profissionais da prática, estimular a práxis, que se constitui na conexão e interligação dos saberes teóricos e práticos, ressaltamos que seria ideal e necessário religar os saberes teóricos e práticos, urgentemente. Somamos a estes desafios temos a condução do processo de iniciação esportiva, pelo senso comum dos ex-atletas, que pautam suas ações nas suas experiências práticas, sem a devida fundamentação teórico-científico.

É importante destacar as contribuições da pedagogia do esporte, embora se trate de um campo acadêmico novo, obteve rápidos e expressivos avanços no rompimento de um ensino tradicional, que proporcionou auxílios tanto no ensino do esporte na escola quanto no clube, demonstrando ser uma área promissora, que de fato vem contribuindo para ações no campo prático-pedagógico. 

Acredita-se, que uma iniciação esportiva bem conduzida é de extrema importância para a sequência das outras etapas da formação no esporte, no entanto, no seu oportuno momento é necessário um aprofundamento dos conteúdos ensinados, sem a profundidade, o esporte não será aprendido efetivamente. 

Desta forma, ampliar as discussões relacionado ao ensino do esporte e caminhar na propagação e construção de modelos de ensino mais interacionista, com abordagens humanistas (ROGERS), cognitivas (PIAGET; VYGOTSKY) e sociocultural (FREIRE) torna-se fundamental. Neste sentido o papel do professor não pode ser minimizado como um mero facilitador ou mediador, ser professor não se trata de uma tarefa simples, requer um nível elevado de conhecimento, habilidades e capacidades para problematizar o conhecimento a ser ensinado. Desta forma, os professores deverão procurar romper com métodos tradicionais (técnica fora do contexto), avançar para propostas interacionistas (técnica desenvolvida no jogo) e construir ações que possibilitem os alunos a desenvolverem a percepção, ação, tomada de decisão e protagonismo do aluno. 

Aprender esporte, não é diferente de qualquer outro aprendizado, requer empenho, dedicação e protagonismo, desta forma, os alunos devem ser colocados no centro do processo de ensino-aprendizagem e os professores devem estimular o conhecimento e apresentar o esporte de forma desafiadora para todos os alunos, não apenas para a parcela mais habilidosa do grupo, o ensino deve ser igual à todos.

Por fim, o professor de educação física, no contexto atual, constitui-se como o responsável pelo ensino do esporte. Por vezes, em alguns momentos, é importante observar e procurar intervir pouco, assim, estará estimulando um maior protagonismo dos alunos no processo de ensino aprendizado.


Téo Pimenta é mestre, professor no curso de educação física da Faculdade Anhanguera de Taubaté e diretor do IEVALE. 


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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

O fenômeno chamado esporte


Texto escrito por José Martins Freire Júnior 

O esporte está presente na sociedade há séculos, manifestando-se de diferentes formas e com inúmeros significados, sendo praticado nos mais diversos locais do planeta. Como aponta Finck (2012, p.93) “O esporte como fenômeno social se manifesta em diferentes contextos e tem objetivos distintos”.  

Nas escolas, é uma manifestação da cultura corporal, como afirma os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), que pode ser ensinada de várias formas e com métodos diversificados.  Sendo assim, o professor de Educação Física tem grande responsabilidade ao ensinar aos alunos os diferentes conteúdos relacionados ao esporte, pois dependendo da maneira que o faz, poderá ou não contribuir de forma significativa para um aprendizado voltado para autonomia, para emancipação, com participação efetiva dos alunos, aspectos preponderantes para uma educação democrática.

Pois "uma prática excludente e seletiva, que impede crianças, adolescentes e jovens de serem livres e de desenvolverem sua autonomia e criticidade, contradiz os atributos educativos [...]" (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2004, p. 11).

O esporte faz parte da nossa cultura e contribui de várias formas para a vida das pessoas, e está presente em diferentes contextos, públicos: escolas, parques e praças, ou privados: clubes, escolinhas de esportes e ginásios.

Bracht (2005) relata que o conceito de esporte precisa abarcar inúmeras possibilidades, pois há um grau de diferenciação muito grande no contexto esportivo, no qual destaca-se as seguintes classificações: esporte de alto rendimento ou de rendimento, esporte de lazer e esporte educativo. Sendo que há uma busca constante por conceitos que expliquem as diferenças entre tais classificações, no Brasil em 1985, José Sarney instituiu uma comissão de reformulação do esporte brasileiro, inclusive foi incorporado pela Constituição Federal de 1988, na qual diferenciou o conceito do esporte em 3 classificações, sendo elas: deporto–performance, desporto–participação e desporto–educação.

Apesar da diferenciação em sua classificação, elas se aproximam, principalmente o esporte-educação, com esporte-participação, dos quais um adentra ao “espaço” do outro, pois é possível enxergar o esporte–participação dentro de um ambiente educacional, como a essa prática de caráter educativo pode estar presente a todo momento, tendo como determinante a forma de sua aplicação, não tendo como relevância o local de sua execução. 

De acordo com Marques, Almeida e Gutierrez (2007), o esporte possui diferentes manifestações que estão relacionadas a duas categorias. A primeira refere-se ao sentido da prática ligada às intenções e ao contexto na qual ocorre, a segunda categoria corresponde à modalidade que se desenvolve por meio de atividades que possuem caráter esportivo, ou seja, possuem regras, normas e órgãos reguladores. Enfim, toda atividade esportiva possui um sentido e se manifesta por meio de uma modalidade que irá expressar os valores e atitudes pelos quais se orienta.

Pode-se perceber que esporte é um componente de destaque mundial, consequentemente é apontado como um dos fenômenos sociais mais expressivos na atualidade e que teve a sua expansão atrelada às transformações sociais que ocorreram nos últimos anos, conquistando uma posição diferenciada em vários campos, sendo eles: político, econômico, educacional, cultural e social (KORSAKAS; ROSE JÚNIOR, 2002).

Vago (1996) aponta que o esporte é considerado uma prática cultural, que incorpora valores sociais, culturais, econômicos, estéticos e utiliza diversos espaços da sociedade para acontecer. Entre esses espaços podemos citar: ruas, parques, clubes, escolinhas de esportes, entre outros espaços de lazer e claro a escola, que é o foco do estudo. 

Dialogamos com Taffarel (2000), quando a autora descreve que o esporte não pode ser analisado de forma isolada e fora do contexto das inúmeras relações e interações que possui com a sociedade, pois desta maneira é dar-lhe uma autonomia inexistente. Esse tipo de análise considera uma visão totalmente idealista de que o “desporto é algo bom em si mesmo” e que está acima de tudo e de todos.

Nota-se a emergência da vinculação entre as políticas esportivas e o discurso da promoção da cidadania ou de inclusão social” (MELO, 2005, apud NOGUEIRA, 2011, p. 111).

Ou seja, pratique esporte que será um sujeito de sucesso, de caráter, reduzindo apenas a um fator complexidade da construção do sujeito, apropriando-se do estereótipo que para chegar a “glória esportiva” o atleta é constituído de inúmeros valores e valências que quase o torna um “super-homem”.

Mas para uma real eficácia do esporte no auxílio da construção do sujeito é necessário que sua prática seja voltada para a emancipação do indivíduo e não tenha com determinante, o econômico, reproduzindo a lógica capitalista da submissão do homem.

 

O professor José Martins Freire Júnior é mestre em educação física e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC.


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

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Acreditamos no poder transformador do esporte. 


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quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Ensine mais que esporte


Texto escrito por Gabriel Silva 

Por trás de todo um conteúdo esportivo a ser ensinado, de fundamentos técnicos a táticos de determinadas modalidades há o trabalho de um profissional que atua como mediador e organizador destes conteúdos que serão ensinados.

Quando ensinamos para além das técnicas e táticas dos jogo, os alunos são capazes de entenderem e compreenderem os valores sociais que o esporte pode promover, o professor deixa de ser um mero transmissor do conhecimento e e passa a contribuir na construção do conhecimento ao aluno e assim, auxilia na formação social dos indivíduos. 

A atual sociedade se apresenta cada vez mais competitiva, da qual a derrota é quase que insuportável aos atuantes do esporte, mas saber lidar com ela é algo necessário, pois faz parte do esporte e sobretudo da vida .

Entretanto, quando analisamos a finalidade do esporte nos ambientes escolares, projetos sociais, e até em espaços de ressocialização, caso dos presídios, é perceptível que os professores irão buscar por meio do esporte um melhor convívio e interação coletiva dos participantes.

Mas como conseguir de fato êxito neste aspecto se o esporte, por si só, em sua essência, se apresenta competitivo, uma vez, que a disputa entre duas equipes anseiam-nos a querer vencer a qualquer custo? E como intermediar tudo isso?

É neste momento que o papel do professor é crucial para que o esporte seja ressignificado e reinventado aos que participam. Carol Dweck (2019) em seu livro “Mindset: a nova psicologia do esporte” alerta aos profissionais que ao estimular a seus alunos se referenciarem nos “melhores”, logo estará promovendo uma grande probabilidade de frustração futura, pois há diversas dificuldades para que consiga atingir no mínimo um mesmo nível de capacidade, seja ela física, tática, técnica, entre outras. Já quando o praticante foca em ser melhor que ele mesmo a cada dia, assim está desenvolvendo o poder do esforço. Para que quando ocorrer derrotas, o aluno não se martirize pelos resultados e sim se auto avalie sobre sua evolução ou regressão.

Repare, o esporte não perde sua essência, mas por meio de algumas medidas estratégicas do professor, exclusivamente, será possível mostrar novos horizontes a seus alunos. Ainda pensando neste sentido, é totalmente viável que os próprios alunos procurem um ajudar o outro eu seus progressos individuais, sem que haja o bullying, as brincadeiras ofensivas e até violências físicas, que embora, às vezes possa ocorrer, o professor deverá estar presente para de fato expor os objetivos do esporte ali praticado.

Assim, o esporte amplia seu potencial e se transforma em uma ponte para atingir objetivos sociais na formação dos participantes. Toda essa construção de ideias só poderá ser realizada, possível, por meio de diálogos constantes e sistematizados estrategicamente nas rodas de conversas, que deve ser rotineira. O estímulo a buscar conhecimentos e a participação efetiva dos alunos todos juntos, isso, independente da idade, sexo, raça ou algum outro paradigma social imposto pela sociedade.

Portanto, quando ensinar o esporte, saiba que há diversos valores por trás desta prática e que cabe aos professores apontarem os olhares dos alunos aos valores desejados.

Gabriel Silva é licenciado em educação física e idealizador do Projeto Joga Mais que a partir da prática do futsal procura contribuir na formação de crianças e adolescentes de Ubatuba/SP.


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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Entre “antas” e “trogloditas”: um breve diálogo com Jocimar Daolio


Texto escrito por Igor Moreira 

No feliz e importante artigo do professor Jociamar Daolio “A construção da cultura do corpo feminino, ou o risco de transformar meninas em ‘antas’”, ele inicia relatando um episódio quando lecionava educação física escolar, em aula que corria dentro da normalidade, quando um lance lhe despertou a atenção, após um saque no voleibol, sua aluna ao errar a recepção, rebela contra si, proliferando o seguinte dizer: “por que sou uma ‘anta’”? (DAOLIO, 2003, p.107). 

Esse substantivo feminino anta, de conotação de não capaz, “burro”, “idiota” entre outros adjetivos depreciativos que se manifesta de forma subjacente, ou explícita, quando ocorrido em aula, essa questão se faz necessário estar no âmago da discussão, mediado e problematizado pelo professor. 

Perante a fala da sua aluna, Daolio (2006) faz uma reconstrução teórica, aportando-se na cultura para entender algumas diferenças entre meninos e meninas no que tange a cultura corporal de movimento. 

Ao analisar a educação dada aos meninos em relação ás meninas, por si só já responde a indagação da garota que se martirizou em decorrência de um erro, mas para tanto, cabe a nós trazer alguns elementos dessa discrepância educacional, conjuntamente com o referencial teórico de Daolio (2006). 

Alguns segregacionistas tentam solidificar-se na biologia para sustentar diferenciações entre meninos e meninas na prática da atividade física, mas não consideram todo o processo que vem desde a descoberta do sexo do bebê.  Quando menino, em especial o pai, já o projeta como o novo “melhor do mundo”, seus sonhos e anseios são para que seu filho se construa a partir do futebol e com isso ao nascer, presentes inerentes a modalidade já ganham destaques em seu quarto e de forma ao contrária, quando é menina, o ideário da princesa pairam entre os pais. Pouco se vê pai e mãe projetando, ou vislumbrando filha esportista. 

Diante a esses cenários o estímulo a cultura corporal de movimento fica quase que perene aos meninos, com seus brinquedos vinculados a prática esportiva, e para as meninas coaduna o sonho dos castelos, da intelectualidade, atrelado aos afazeres domésticos e a maternidade, representado pelo imaginário social, das “panelinhas”, “casinhas”, “vassourinhas” e “bonecas”.

Mas mesmo diante dessa cultura que vivemos, não podemos incorrer no erro e afirmar que as práticas corporais exitosas são de exclusividade masculina; como bem disse Daolio (2003, p.108) “[...] nem todas as meninas são inábeis e nem todos os meninos são hábeis”. 

Diante a construção dessas subjetividades, do “esportista” e da “princesa” as ações iniciadas “na” e “pela” família são preponderantes para as diferenças de acervos motores. Aos meninos são permitidos o brincar intensamente na rua (quando existe a rua), são estimulados a irem nas escolinhas de esportes, mais do que as meninas. Esses tratamentos distintos são os principais fatores para que os meninos, em números, sejam mais “hábeis” do que as meninas.

Com base nos meus doze anos de experiência na educação física escolar, é notório que com o passar dos anos, aumentem essas diferenças e essas no ciclo 1 são quase irrisórias, tornando-se mais perceptíveis no ciclo 2; isso nos leva a considerar que a construção de “antas” adentram ao campo cultural em detrimento ao biológico. 

E importante salientar que mesmo diante ao que foi apresentado, existem muitas práticas corporais que há êxitos maiores entre as meninas, como por exemplo as atividades rítmicas e expressivas, e podemos afirmar o que distingue meninas e meninos nessas práticas também é a cultura.

Dentro de uma cultura machista como a nossa, se o garoto buscar atividades relacionadas a determinadas danças, o preconceito passará pela sua vida em algum momento, de igual forma, quando uma garota se permite a aventurar-se, desde pequena, ao mundo do futebol ou futsal. 

Dois pontos devemos explanar: 1) estamos falando sobre a cultura brasileira; 2) em concordância com Daolio (2006, p.110) quando diz: “não pretendo aqui propor que haja uma construção idêntica dos corpos dos homens e das mulheres”, ou seja, é de claro consenso a existência de diferenças, o que se pretende é entender essas manifestações, para que possamos contribuir da melhor maneira possível na formação das nossas alunas e alunos, oferecendo as mesmas possibilidades de práticas corporais. 

Fecho esse breve texto parafraseando Daolio (IDEM, p.118): 

Desta forma, meninos e meninas poderão fazer aulas conjuntamente sem nenhum tipo de constrangimento e a educação física não estará mais contribuindo para a criação de “antas” [...] nem de “trogloditas”


O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC. 


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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Ensino do esporte na escola inovação ou mera reprodução?

 

Texto escrito por José Martins Freire Júnior

No Brasil, o primeiro contato das crianças e adolescentes com o esporte, geralmente, ocorrem na escola durante as aulas de educação física escolar.  No meu caso não foi diferente. Iniciei minha vida esportiva aos 12 anos de idade, em 1999, na modalidade handebol e após alguns meses já estava inserido na “seleção” da escola para disputar competições e torneios escolares. 

Essa atração pelo esporte perdurou até o último ano do ensino médio em 2004, ao concluí-lo, passei a competir em Jogos Regionais representando a cidade de Aparecida- SP. Dois anos mais tarde, em 2006, ingressei no curso de graduação em Educação física e nos anos de 2009 e 2010, obtive no referido curso, os títulos de licenciatura e bacharel, respectivamente. No entanto, pude constatar nesta trajetória do ensino superior, que a maioria das disciplinas esportivas refletia a minha prática da educação física escolar, ficando apenas em torno da reprodução de técnicas e fundamentos esportivos.

A partir desta experiência pautada de “mera reprodução de movimentos”, foi possível perceber que o esporte não estava sendo utilizado como um meio educacional, pois não estava sendo construído acerca de sua história e conceito, nem dos valores que este rico conteúdo costuma envolver. No entanto, destaco a atuação de dois professores que, em certo momento da graduação, exatamente no ano de 2007, durante as aulas das disciplinas esportivas de futebol de campo e de voleibol, os mesmos mostraram o outro lado do esporte, trazendo a preocupação em utilizar estratégias que fomentassem o aprendizado da criança, que além de desenvolver capacidades físicas, técnicas e táticas, também educasse.

Fatores estes que foram preponderantes para a ampliação do meu modo de pensar o esporte, contribuindo para a expansão das possibilidades na minha prática docente. Ao me graduar no ensino superior, no ano de 2010 passei a ser treinador de handebol da categoria sub-21, das equipes feminina e masculina de uma pequena cidade do Vale do Paraíba, além disso, também iniciei a minha fase como professor de educação física escolar, graças aquelas disciplinas citadas da graduação, passei a desenvolver o esporte como um meio educacional com os alunos de 1º ao 5º do Ensino Fundamental I. 

O interesse pelo esporte continuou presente em meus estudos: participei de vários cursos de iniciação esportiva e pedagogia do esporte e em 2012 me tornei professor de uma Instituição de Ensino Superior, pude perceber que algumas das disciplinas esportivas ainda eram pautadas na reprodução de movimentos e das técnicas esportivas, porém, parece não ser um fato isolado, sendo comum em outras Instituições de Ensino Superior. 

Mesmo com as constantes mudanças nas inúmeras áreas do conhecimento, inclusive, a evolução das ciências do esporte fizeram com que fosse necessário buscar um novo modo de entender o esporte e suas diferentes manifestações. E assim o fenômeno esportivo pode ser apresentado em 5 principais e significativas manifestações: Esporte Profissional, Iniciação Esportiva, Esporte como Conteúdo do Lazer, Esporte de Representação e Esporte Escolar (PAES; MONTAGNER; FERREIRA, 2009).

No entanto, mesmo com tantas manifestações esportivas, percebemos que o modelo de esporte profissional ou de alto rendimento, no qual prioriza a reprodução das técnicas esportivas, são reforçados nos cursos de graduação de uma forma tradicional e com isso os futuros profissionais podem preconizar o ensino destes modelos na escola.

Como relata Finck (2012), no qual mostra que os alunos possuem um conhecimento limitado sobre o esporte, pois alguns professores ainda encaram a escola como um espaço de formação de atletas, com isso cobram a execução correta das técnicas esportivas, deixando de lado o caráter lúdico e prazeroso do esporte, desconsiderando assim os movimentos espontâneos e a expressividade dos alunos. 

A educação física escolar deve pautar-se na formação integral dos alunos, visando desenvolver os aspectos: sociais, cognitivos, motores e afetivos. Fazendo com que as aulas se tornem espaços para a observação, manifestação e transformação dos aprendizados, para que os alunos possam transferi-los para a vida. O esporte é um caminho para isso, desde que não seja desenvolvido apenas por meio do modelo do esporte profissional, mas pela valorização do processo de ensino aprendizagem e das relações pessoais, dando importância a totalidade do ser humano (GALATTI; PAES, 2006). 

Para que o aprendizado ocorra de maneira satisfatória é importante que o professor possua uma conduta pedagógica centrada no aluno e dependendo do estilo que o professor adote pode favorecer um melhor desenvolvimento de sua turma, sendo assim, cada atividade, cada esporte, cada conteúdo possuem aspectos a serem ensinados por determinados estilos que permitam a produção de novos conhecimentos (KRUG, 2009).

Diante disso, abro um parêntese para alguns questionamentos, será que os professores de Educação Física modificaram a sua forma de ensinar o esporte na escola? Quais as modalidades esportivas ensinadas? Quais são os conteúdos esportivos ensinados na educação física escolar? A prática esportiva contribui para a formação dos alunos dentro do ambiente escolar?

E você profissional de Educação Física escolar está educando pelo esporte, ou seja, fazendo com que seus alunos sejam autônomo e protagonistas das aulas ou está fazendo com que apenas reproduzam movimentos?


O professor José Martins Freire Júnior é mestre em educação física e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC.



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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Os aplicativos substituirão os professores?


 

Texto escrito por Gabriel Silva

No processo de ensino-aprendizagem, atualmente temos basicamente duas formas de estimular o conhecimento. Podemos separar em pensamento dialético e anti-dialético. 

No dialético, aparentemente, mais simples e de fácil manejo, no entanto, não menos importante quando se comparado ao uso da tecnologia. O dialético se desenvolve por estímulos, símbolos da língua, leitura, escrita, no caso esportivo, o gesto e o movimento são linguagens. Assim, no contexto da educação esportiva pode acarretar em aspectos negativos, uma vez que a reação dos alunos se torna instintiva, lógica, o famoso “bateu levou”, neste sentido, recomenda-se evitar críticas e comentários no calor das emoções.

A ideia central e o projeto educacional é estar contribuindo para a construção de alunos pensantes, resilientes, que reage não por instinto, mas por discernimento e sabedoria.

Pensadores do quilate de Kant, Freud e Piaget ressaltaram que o papel do professor não é promover repetidores de informações, mas sim, seres pensantes que busquem constantemente melhores estratégias para determinadas atividades, além de entender a razão de tudo aquilo que o faz.

É comum em ambientes do esporte bem como nas aulas de Educação Física, centro de treinamentos ou até em contextos universitários, ocorrer atividades da qual o professor explicou e aplicou determinado conteúdo sem promover uma visão crítica do aluno. A inibição da autonomia do aluno pode gerar limitação em seu desenvolvimento, pois estará desenvolvendo um repetidor de informação.

Augusto Cury (2020) afirmou que o professor que se restringir a formar máquinas e não seres humanos, formar doutrinadores e não seres pensantes estarão tendo a mesma finalidade que o uso de um aplicativo. Sendo assim, é fundamental que o profissional se auto-avalie com freqüência para que suas ações não sejam baseadas em passo a passo, mas sim adaptadas ao seu ambiente e seu público. 

Na atualidade, está cada vez mais frequente o uso de aplicativos nas práticas esportivas por crianças, jovens, adultos e até idosos, assim, muitos que praticam atividades físicas de um modo geral. É um suporte que auxilia no controle do desempenho. Em contra partida, este mesmo aplicativo não é possível medir o nível das capacidades físicas do aluno, além de não considerar o nível de alimentação do praticante, limitações físicas e até o estado emocional, ou seja, há inúmeras limitação. 

Portanto, apesar da tecnologia se apresentar como uma grande aliada dos professores, recomendamos que deve ser muito bem administrada e refletida o seu uso no cotidiano, pois o aplicativo não lhe dá o poder da crítica, nem tão pouco espaço para expressar a autonomia. O professor neste aspecto é insubstituível, neste caso, só o professor possui a sensibilidade e entendimento as expressões humanas, coisa que o aplicativo é incapaz de fazer. Por fim, para o aluno com algum eventual desconforto, seja em qualquer aspecto, podendo ser físico, emocional, ambiental será inútil se queixar com o aplicativo. 


O professor Gabriel Silva é licenciado em educação física e idealizador do Projeto Joga Mais que a partir da prática do futsal procura contribuir na formação de crianças e adolescentes de Ubatuba/SP.


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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Métodos de treinamento: a importância e a armadilha da modernidade


Texto escrito por Igor Moreira
No meu último texto publicado neste blog, trouxe um micro fragmento da história do futebol a título de elucidar o processo desse esporte no Brasil. Provoco ao texto que segue alguma reflexão sobre caminhos dessas transformações, fazendo com que narrativas nessa linha serem recorrentes “não se faz mais jogadores como antigamente”; contudo para o presente texto peço certa licença acadêmica. 

Falar em aula/ treinamento e suas formas de organização perpassam por métodos. Em busca rápida ao dicionário online, método significa: processos, sistemas, arrumações, investigações, maneiras, meios, ordens. Ou, modo usado para realizar alguma coisa; técnica: método científico. Adotaremos essa segunda definição, então métodos de treinamento, como sendo, o modo usado para realizar um treino. 

Diante dessa definição em conjunto com o pensamento Aristotélico, quando diz “o que nos torna iguais é que somos diferentes”, e pensar o futebol, ou outros esportes coletivos, por pretender buscar o empenho individual, atrelado a um trabalho grupal e com base em métodos de treino para realizar o trabalho, percebemos a complexidade que é ser professor/treinador.  

Ao remeter a alguns métodos e suas nuances, dentre eles: analítico, global, situacional, táticas, entre outras possibilidades, e colocar nas mãos de uma pessoa que objetiva fazer sua equipe jogar, mas tendo que enfrentar as individualidades, são desafios a serem enfrentados. 

No discurso as falas tangenciam para o percurso da autonomia, tomada de decisão, emancipação, que a formação é pautada pela liberdade, que vencer relega-se a segundo plano, nos processos de formação. 

Mas o que muito se vê, são técnicos eufóricos, nas beiras das linhas que ao invés de ensejar um bom jogo, anseiam pela vitória, ou como já mencionou Scaglia (2020), o professor deve almejar o empenho dos seus alunos e não o desempenho; Santana (2019) nos orienta a explorar a individualidade e negar o individualismo. 

Contudo, esses conceitos devem sair do campo semântico e adentrar as práticas, e fazer nossos alunos driblar “atrás”, buscar a joga individual que os modernos chamam de um contra um, buscar o lance diferente, mesmo que ela custe o erro e consequentemente uma derrota; necessita-se menos fones de ouvido e mais diálogo. Valorizar a individualidade e coibir o individualismo. 

Recomendo a todos professores, técnicos, alunos e atletas em formação ou “formados” que assistam o filme “O jogo da paixão” com Kevin Costner, onde o ator é um jogador de golfe, estilo boleiro, e entra em um campeonato importante contra seu algoz, estritamente profissional, um Cristiano Ronaldo e  Kevin Costner com o título praticamente ganho, se permite a ousar e buscar uma jogada quase impossível, se é quase, porque há possibilidades, ele segue seu coração e busca a plasticidade da jogada, perde o título. Depois de inúmeras tentativas consegue a tão almejada tacada e faz essa magnífica atitude ser recordada por esse que escreve a vinte quatro anos depois de ter assistido.

Por que não se faz mais jogadores como antigamente? Porque desde pequeno o professor engessa as possibilidades da ousadia dos alunos, ousadia e alegria ficaram somente na música do cantor Thiaguinho, os técnicos sob égide da evolução do esporte utilizam em demasia os métodos, mas sem a apropriação adequada dessas formas de treinamentos, que são de grande importância. Jesus não me deixa mentir, o Jorge. 

Falam do ensino a partir do jogo para dar autonomia ao aluno, mas constroem atividades com todas as ações determinadas, pensam no analítico para melhorar os fundamentos, mas o que ocorre são descabidas sessões de repetição de movimento; fala-se em situacional, sendo situação determinada por uma única pessoa, entre outras formas de apropriar, sem propriedade. O drible é heresia, o passe de efeito está escrito como o oitavo pecado capital, a brutalidade (o indivíduo forte) é elemento fundante para alçar a um lugar ao sol. 

Buscar aquilo que o professor Paulo Freire chamou de ‘inédito viável’ seria ressuscitar Cazuza, mas com outra interpretação de “um museu de grandes novidades”, o museu seria a retomada do nosso jeito de jogar futebol e as novidades seriam a inserção dos métodos, que bem utilizados são conspícuos para construção de equipes organizadas e jogadores inteligentes, não só corporalmente.    

Enquanto isso, sigo a trilhar dos meus sinuosos caminhos e continuo a ser essa metamorfose ambulante, encontrando em Thomas More (1516) a Utopia, por que não quero ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Para tanto em consonância com Távola (1985) encerro me apropriando das sábias palavras desse autor:

O futebol do futuro vai ser sem o gol como única aferição da vitória e sem juiz. O momento do gol será festejado pelos dois times e cumprimentados os autores. Nem será necessário a bola transpor a linha. Uma bela jogada de conclusão infeliz será considerada meio gol pelo time adversário que aceitará a qualidade de sua urdidura, e mandará anotar meio ponto. Haverá uma qualificação para a beleza das jogadas a valer pontos e dela participarão os dois times, mais empenhados em descobrir a beleza do que em evitá-la. O resultado final será a mescla do número de gols, como o de escanteios, o de jogadas consideradas belas e atitudes dignas de registro. Os dois times se reunirão para proclamar e ambos comemorarão o fato de terem feito o espetáculo, aproveitando para verificar em que pontos melhoraram. No futebol do futuro, o adversário não servirá para ser superado ou superar, e sim para ajudar a conferir em que aspectos cada time superou-se (a si próprio e não o adversário). O adversário nem assim se chamará. Será o “solidário”. As notícias dirão: “A seleção brasileira solidarizou-se ontem com a da Alemanha na verificação dos pontos em que ambas progrediram. A do Brasil venceu a si mesma por três pontos e a da Alemanha empatou com o seu desempenho anterior. Ao final, todos juntos comemoraram a alegria de compartir o esporte e de ajudar um ao outro na tarefa da auto-superação” (TÁVOLA, 1985, p. 275).


O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC. 


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