Texto escrito por Igor Moreira
O presente ensaio busca refletir sobre o ensino do futebol em uma perspectiva ética, se aportando, mas não de forma aprofundada no conceito aristotélico. Para Aristóteles a ética está relacionada com a boa conduta humana, o bem do homem e de sua vida. O homem foi feito para ser feliz (eudaimonia), a felicidade é uma vida com sentidos, que tem funções (télos). Uma vida feliz é uma vida racional, a razão faz parte da natureza humana, é o que nos difere dos animais irracionais.
A ética é a minha conduta perante ao outro, é a intencionalidade na busca do bem comum, é o que cantou a banda de Rock, Capital Inicial, “o que você faz quando ninguém te vê fazendo”. E nós professores precisamos educar com ética e para a ética, pois nosso caráter é moldado pelos nossos hábitos e costumes.
Com base no descrito não se pode incorrer no erro em dizer que existem pessoas antiéticas ou sem ética, esse valor adentra a esfera individual, cada um tem a sua, o que se têm são pessoas com éticas que não coadunam com o entendimento aristotélico.
E no futebol encontra- se diversas manifestações dos jogadores que têem sua ética oposta à busca de uma boa conduta humana. A busca eudaimônica é construída a partir de atos ilegais (moral) e valorizada por muitos, em especial narradores esportivos, que sob a égide do “jeitinho brasileiro” enaltecem atos ilícitos, como o “cavar” de uma falta. Soa como heresia ações como a do jogador Rodrigo Caio, quando defendia o São Paulo Futebol Clube, propiciou um lance de “fair play”. Sua interpretação sobre situação que estava envolvido, foi pautada em sua ética fazendo com que assumisse ser o responsável pelo contato físico com o goleiro da sua equipe e não o jogador Jô, da equipe do Sport Club Corinthians Paulista, como havia interpretado o árbitro.
Na rua a ética no futebol se faz presente para a uma vida racional. Não precisa ninguém dizer se a “bola saiu” ou se foi “mão’, ou se foi falta; as organizações entre as crianças são pautadas nesses preceitos permitindo com que as brincadeira, jogos, ocorram de forma satisfatória, e quando um participante começa a divergir dos outros, com base naquilo que ele se permite fazer, ações são realizadas para coibir a impertinência desse “contraventor”.
E quando esses meninos saem da rua e buscam espaço mais formal de ensino do futebol, por vezes se deparam com outras manifestações éticas que não encontravam no seu espaço não formal, como exemplo, quando esse para o lance porque seu braço foi ao encontro da bola, aquele que deveria educar com ética e para ética no sentido aristotélico, para a aula e diz: se eu o árbitro não apitar não para.
O esporte em geral é uma grande ferramenta de ensino de valores sociais, e pensar a formação do sujeito via cultura corporal de movimento apropriando- se da maior paixão nacional, pode ser uma combinação frutífera para construção de uma sociedade melhor.
Para tanto se faz necessário que o professor conduza suas aulas alicerçadas por preceitos éticos, cooperativos, que a cidadania se faça presente, entre outros valores baseando- se nos princípios pedagógicos de João Batista Freire, em especial o “ensinar mais que futebol a todos”.
Pensar o ensino do futebol, em uma perspectiva de jogo, permeado pelo bem comum, para que haja aprendizado da modalidade, a partir da ética de Aristóteles, buscando a eudaimonia, para que realmente atinja o télos. Segundo Freire
O jogo é (...) uma das mais educativas atividades humanas (...) Ele educa, não para que saibamos mais matemática ou português ou futebol; ele educa para sermos mais gente, o que não é pouco”(FREIRE, 2002, p. 38).
O ser mais gente é ter uma vida racional, que o bem comum prevaleça em detrimento aos interesses particulares, uma vida de funções e feliz é uma vida ética, e sua construção pode ser mais prazerosa se vier através da “bola”.
O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC.
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