Falar em aula/ treinamento e suas formas de organização perpassam por métodos. Em busca rápida ao dicionário online, método significa: processos, sistemas, arrumações, investigações, maneiras, meios, ordens. Ou, modo usado para realizar alguma coisa; técnica: método científico. Adotaremos essa segunda definição, então métodos de treinamento, como sendo, o modo usado para realizar um treino.
Diante dessa definição em conjunto com o pensamento Aristotélico, quando diz “o que nos torna iguais é que somos diferentes”, e pensar o futebol, ou outros esportes coletivos, por pretender buscar o empenho individual, atrelado a um trabalho grupal e com base em métodos de treino para realizar o trabalho, percebemos a complexidade que é ser professor/treinador.
Ao remeter a alguns métodos e suas nuances, dentre eles: analítico, global, situacional, táticas, entre outras possibilidades, e colocar nas mãos de uma pessoa que objetiva fazer sua equipe jogar, mas tendo que enfrentar as individualidades, são desafios a serem enfrentados.
No discurso as falas tangenciam para o percurso da autonomia, tomada de decisão, emancipação, que a formação é pautada pela liberdade, que vencer relega-se a segundo plano, nos processos de formação.
Mas o que muito se vê, são técnicos eufóricos, nas beiras das linhas que ao invés de ensejar um bom jogo, anseiam pela vitória, ou como já mencionou Scaglia (2020), o professor deve almejar o empenho dos seus alunos e não o desempenho; Santana (2019) nos orienta a explorar a individualidade e negar o individualismo.
Contudo, esses conceitos devem sair do campo semântico e adentrar as práticas, e fazer nossos alunos driblar “atrás”, buscar a joga individual que os modernos chamam de um contra um, buscar o lance diferente, mesmo que ela custe o erro e consequentemente uma derrota; necessita-se menos fones de ouvido e mais diálogo. Valorizar a individualidade e coibir o individualismo.
Recomendo a todos professores, técnicos, alunos e atletas em formação ou “formados” que assistam o filme “O jogo da paixão” com Kevin Costner, onde o ator é um jogador de golfe, estilo boleiro, e entra em um campeonato importante contra seu algoz, estritamente profissional, um Cristiano Ronaldo e Kevin Costner com o título praticamente ganho, se permite a ousar e buscar uma jogada quase impossível, se é quase, porque há possibilidades, ele segue seu coração e busca a plasticidade da jogada, perde o título. Depois de inúmeras tentativas consegue a tão almejada tacada e faz essa magnífica atitude ser recordada por esse que escreve a vinte quatro anos depois de ter assistido.
Por que não se faz mais jogadores como antigamente? Porque desde pequeno o professor engessa as possibilidades da ousadia dos alunos, ousadia e alegria ficaram somente na música do cantor Thiaguinho, os técnicos sob égide da evolução do esporte utilizam em demasia os métodos, mas sem a apropriação adequada dessas formas de treinamentos, que são de grande importância. Jesus não me deixa mentir, o Jorge.
Falam do ensino a partir do jogo para dar autonomia ao aluno, mas constroem atividades com todas as ações determinadas, pensam no analítico para melhorar os fundamentos, mas o que ocorre são descabidas sessões de repetição de movimento; fala-se em situacional, sendo situação determinada por uma única pessoa, entre outras formas de apropriar, sem propriedade. O drible é heresia, o passe de efeito está escrito como o oitavo pecado capital, a brutalidade (o indivíduo forte) é elemento fundante para alçar a um lugar ao sol.
Buscar aquilo que o professor Paulo Freire chamou de ‘inédito viável’ seria ressuscitar Cazuza, mas com outra interpretação de “um museu de grandes novidades”, o museu seria a retomada do nosso jeito de jogar futebol e as novidades seriam a inserção dos métodos, que bem utilizados são conspícuos para construção de equipes organizadas e jogadores inteligentes, não só corporalmente.
Enquanto isso, sigo a trilhar dos meus sinuosos caminhos e continuo a ser essa metamorfose ambulante, encontrando em Thomas More (1516) a Utopia, por que não quero ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Para tanto em consonância com Távola (1985) encerro me apropriando das sábias palavras desse autor:
O futebol do futuro vai ser sem o gol como única aferição da vitória e sem juiz. O momento do gol será festejado pelos dois times e cumprimentados os autores. Nem será necessário a bola transpor a linha. Uma bela jogada de conclusão infeliz será considerada meio gol pelo time adversário que aceitará a qualidade de sua urdidura, e mandará anotar meio ponto. Haverá uma qualificação para a beleza das jogadas a valer pontos e dela participarão os dois times, mais empenhados em descobrir a beleza do que em evitá-la. O resultado final será a mescla do número de gols, como o de escanteios, o de jogadas consideradas belas e atitudes dignas de registro. Os dois times se reunirão para proclamar e ambos comemorarão o fato de terem feito o espetáculo, aproveitando para verificar em que pontos melhoraram. No futebol do futuro, o adversário não servirá para ser superado ou superar, e sim para ajudar a conferir em que aspectos cada time superou-se (a si próprio e não o adversário). O adversário nem assim se chamará. Será o “solidário”. As notícias dirão: “A seleção brasileira solidarizou-se ontem com a da Alemanha na verificação dos pontos em que ambas progrediram. A do Brasil venceu a si mesma por três pontos e a da Alemanha empatou com o seu desempenho anterior. Ao final, todos juntos comemoraram a alegria de compartir o esporte e de ajudar um ao outro na tarefa da auto-superação” (TÁVOLA, 1985, p. 275).
O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC.
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