segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Profissional especialista ou multifuncional: qual a exigência da área para a atuação do profissional de educação física?


Texto escrito por Luiz Fernando Santos Tross (Fininho)

A Educação Física como disciplina acadêmica tem suas fundamentações nos cursos de graduação e pós-graduação, ou seja, no ensino superior. É um ramo do conhecimento formalmente ensinado, seja na universidade ou na faculdade.

Sendo assim, perguntas vêm a galope como: qual e que tipo profissional deve-se formar? Com que intuito? Para atuar onde? Contrata-se mais profissionais especializados ou generalistas e multifuncionais? Qual a exigência do mercado? Estes questionamentos dão início a discussão e o pensamento crítico que deve haver em cada profissional de educação física. 

Para se constituir uma universidade, um tripé composto necessariamente de suas três partes deve existir: Ensino, Pesquisa e Extensão. O que vem ocorrendo nos cursos de formação profissional – graduação – causa um embaraço no entendimento de que tipo de profissional está sendo formado. Parece-me que a maioria das instituições formam professores despreparados para o mercado de trabalho, sem conhecimento técnico específico em nenhuma área, muito menos incentivado e orientado a produzir e absorver conhecimento científico. Sendo assim, a qualidade dos milhares de profissionais de educação física que se formam todos os anos e vão a comboio para o mercado de trabalho é questionada, fazendo com que muitos mudem de profissão por não conseguirem emprego, ou por não serem devidamente remunerados (muitas das vezes por falta de merecimento por sua competência), trazendo um descrédito da área como um todo.

Parte disso ocorre por não se ter um foco e objetivo de qual profissional deve-se realmente se formar, seja na licenciatura ou no bacharelado. As grades curriculares das instituições universitárias são multivariadas, generalizando o conhecimento que deveria ser aprofundado e focalizado; professores que advém de outras áreas ou docentes sem elevada qualificação que, por muitas vezes, não aprofundam no conhecimento específico da área que leciona; por problemas financeiros e políticos, muitas das instituições adotam a filosofia do menos para o mais, ou seja, mantém menos professores nos quadros de funcionários ministrando diversas disciplinas sem nenhuma afinidade com o conteúdo, baixando o sarrafo da qualidade de ensino para evitar gastos excessivos.

Por tal, vemos profissionais se formando sem nenhuma perspectiva de como atuar, onde atuar e com o que atuar. A ideia que muitos comentam é a de que seria para estar se formando professores que saibam um pouco de tudo do que ocorre no leque de possibilidades que a área oferece, mas a impressão é que se formam professores que sabem nada de nada. Hoje em dia o que se mostra é que se pretender formar, no mesmo curso, o profissional comum, o cientista e o técnico especializado (sendo inviável o profissional polivalente), cabendo a pós-graduação lato e stricto sensu o complemento da formação do pesquisador, ou do treinamento do especialista altamente qualificado. Estamos no caminho certo?

Para o ensino na universidade, esta impossível polivalência ainda é buscada, nos dias atuais, tendo professores ministrando diversas disciplinas que não são interligadas em conceitos, etimologia, práticas, historicidade, condutas e feelings, fazendo com que a qualidade do ensino caia, pois dificilmente o professor será especialista em 5 ou 6 áreas diferentes. Recai, portanto, a qualidade de formação na graduação (e pós-graduação) de novos recursos humanos, afetando as condutas no campo de atuação teórico-prático, o que é algo perigoso e extremamente comprometedor para qualquer área.

Mas em contrapartida, vejo profissionais com atuação direta na intervenção perante a sociedade em que esta “qualidade” em ser polivalente, multifacetado, multifuncional, no sentido de se adaptar a várias exigências, ter um conhecimento vasto em diversas funções, mesmo que não seja aprofundado ou especialista em nenhuma delas, acaba por ser a preferência na contratação por empresas, clubes e academias, vistas as potencialidades de adaptação e substituição de outros profissionais, caso haja necessidade.

Porém, mesmo no ensino superior, em concursos, empresas ou no trabalho autônomo (por exemplo: personal trainer), há quem busque por profissionais altamente especializados, com expertises específicas e há quem almeje profissionais ditos “bombril”, que faz de tudo um pouco. A discussão, aqui, não é qual o mais bem remunerado, nem que é mais bem visto perante a sociedade e muito menos que é o descrédito da área, se é que há. Penso que espaço de atuação tem para todos, mas para todos os que se empenham para ser os melhores, seja o melhor especialista em uma determinada função/área de conhecimento ou o melhor polivalente, que sabe atuar com seu brilhantismo onde for solicitado que atue. O que deve haver consenso, e isto já é fato, pelo menos para mim, é que profissionais medíocres e simplistas não sobrevivem. Ou até sobrevivem, mas são os que rebaixam a área, reclamam de salários pífios, e causam o olhar desconfiado e discriminatório da sociedade e de outros profissionais como médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e até psicólogos. 

Creio que cada profissional deva “ingerir” a produção científica produzida no seu setor de atuação, absorver o que pode contribuir nas melhorias de suas condutas profissionais e descartar o que não lhe for útil ou condizente com sua realidade, seu contexto/caso. Cientistas e pensadores buscariam analisar a ciência num panorama mais amplo, e discuti-los. Pesquisadores devem continuar a produzir conhecimento, independente dos meios que utilizará para publicá-lo, portanto que tenha fácil acesso aos profissionais e à população, assim como sua linguagem clara. Nem todo profissional deve viver para pesquisar, mas todo profissional consciente deve utilizar a pesquisa como forma de atuar com mais embasamento, segurança e eficiência, pois a população/mercado precisa destes profissionais-atuantes e não apenas profissionais-pesquisadores.

Por fim, o conhecimento teórico-prático é essencial para qualquer tipo de profissional que se proponhas, mas que tenha embasamento, comprovação e funcionalidade, corroborando com Tani (1996, p. 23), o qual coloca: 

Ao meu ver, ambos conhecimentos – acadêmicos e profissionais – são importantes e necessários para a atuação e para a preparação profissional e, portanto, entendo que a busca pela autenticidade e respeitabilidade profissionais implica a elaboração e desenvolvimento de um corpo de conhecimentos, acadêmicos e profissionais, através de pesquisa e a sua utilização para melhorar a qualidade da prática profissional.


O professor Luiz Fernando Santos Tross (Fininho) é mestre em educação física pela USJT, atua com práticas corporais no SESI e docente no curso de Educação Física na Anhanguera Educacional de Taubaté.


Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

www.ievale.com.br


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