segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Jogos esportivos coletivos: o prazer de aprender jogando


Texto escrito por Igor Moreira

Wilton Santana, no artigo No jogo, o prazer e a eficácia do treino, traz a ideia do ensino a partir do jogo como método de treino para o futebol, partindo do entendimento que o jogo gera prazer e o prazer pode produzir um trabalho eficaz. Nesse texto faremos um diálogo com Santana, com propósito de acrescentar mais elementos nessa discussão e adentrando ao campo dos esportes coletivos em geral. 

O referido autor busca em Jean Piaget, o conceito de que “a afetividade é o combustível para a inteligência”, reinterpretando Piaget, ele diz que a afetividade, corresponde ao interesse, ou seja, “o interesse é o combustível para a inteligência”.

A inteligência aqui engloba várias possibilidades, dentre elas a corporal, que pode ser exemplifica na melhora da posição corporal vantajosa, algo valorizado por Pep Guardiola. 

Despertar o interesse dos nossos alunos, exige de nós docentes a busca de atividades que façam os discentes sentirem- se felizes; a eudaimonia aristotélica.  A felicidade é o momento que se vive e se deseja que não tenha fim, situação única, esse sentimento dentro do jogo se manifesta quando se está em estado de jogo, conforme nos ensinou Scaglia.   

Estar em estado de jogo, é se envolver por completo na atividade realizada, buscando o máximo empenho, e aqui não confundir empenho com desempenho. Quando busco empenho, busco ser melhor que era há dez segundo, pois não sou o mesmo que era dez segundos antes. 

O aluno em estado de jogo, vive intensamente o momento, não quer que a aula/ treino acabe, isso segundo Santana (2020), gera o interesse e o interesse   é o combustível da inteligência. Mas como levar os alunos a esse estado? 

Em nosso entendimento, com base em diversos autores, dentre eles Santana (2020); Scaglia (2020), o ensino dos esportes coletivos deve ser a partir do jogo, o jogo sendo sistema complexo, onde diferentes situações ocorrem simultaneamente, como por exemplo: ações técnicas, táticas, psicológicas, a imprevisibilidade, dentre outros elementos que constroem a complexidade.

O jogo com suas variáveis o faz ser prazeroso, e nós enquanto professores, devemos estimular esse prazer, como aulas/ treinos que o jogar esteja presente a todo momento, e não diluir em repetições monótonas de movimento, atingindo de forma descontextualizada apenas um elemento do esporte.

Perante ao dinamismo que é o jogo, aulas/ treinos devem dialogar com complexidade que é inerente a essa atividade. Freire (1996) sobre a divergência das ações que ocorre no jogo e que se faz nos treinos, descreve que querem ensinar o esporte de forma fragmentada, e depois juntar todas as partes para constituir um todo. O autor entende que as habilidades específicas são aprendidas, mas o jogador fracassa quando jogo começa, justamente porque o esporte contém mais elementos do que o gesto motor. Dito de outra forma, nessa perspectiva descrita por Freire, o treino não coaduna com a lógica interna da modalidade. 

Quando a criança, o adolescente busca o jogo, ela quer jogar de forma intensa, prazerosa; isso é gerador de felicidades, momentos felizes levam ao empenho, consequentemente ao interesse, sendo o interesse o combustível da inteligência, ansiamos então que nossos alunos joguem. 

Precisamos despertar nossos alunos para subversão, subversão não é contravenção, subversão no sentido de fazer algo a mais do que o rotineiro, que o comum, estimular o drible, o passe de efeito, o lance mágico. Buscar o oposto da robotização, propiciar aos alunos que se aventurem a esse mundo fantástico, para que no término da aula/treino se sinta transformado pelo jogo, reafirmando o entendimento que o interesse é o combustível da inteligência, atendendo aquilo que Garganta (1995), já nos ensinou em longas datas, “precisamos formar alunos cooperativos e inteligentes”.

Destarte encerramos o texto concordando a ironia de Santana (2020, s/p.) quando diz “se você ensina pelo jogo, o seu jogador corre o ‘risco’ de aprender a jogar”. 


O professor Igor Moreira é mestre em Políticas Sociais e docente no curso de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC. 


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

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