quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Prática esportiva nas aulas de Educação Física: um reflexo da sociedade

 


Texto escrito por José Martins Freire Júnior 

É visível que o esporte, para ser desenvolvido nos moldes e nos padrões de alto rendimento, necessita de inúmeras exigências que cada vez menos pessoas conseguem atender o exigido, porém ainda é o modelo que muitos seguem. Existindo uma falsa consciência de que o esporte de alto rendimento é o modelo mais apropriado para prática esportiva de todos. Além disso, muitas vezes os profissionais de educação física não percebem o poder dessa falsa consciência e se tornam agentes reforçadores deste modelo (KUNZ, 2006). 

É na escola que encontramos uma grande busca pela prática esportiva, este fato não pode ser negado, porém a escola parece não acreditar nas possibilidades e na função educativa da esporte competição. Pois, para que esporte de competição tenha uma maior credibilidade no meio escolar é necessário que alguns paradigmas sejam quebrados, tais como: vencer a qualquer custo, individualismo e a intensa busca por resultados. Diante disso, a competição escolar deve ser embasada em alguns pilares: cooperação, valores sociais, coeducação, cooperação, participação, autonomia e pluralidade cultural (REVERDITO; SCAGLIA, 2009).

O esporte escolar por vários anos vem sofrendo inúmeras críticas por copiar o modelo de esporte de alto rendimento. De acordo com Taffarel (2000), esta manifestação do esporte da maneira como é desenvolvida na Educação física escolar não colabora para a diminuição da desigualdade social, pois os objetivos propostos não estão unificados com os anseios voltados para uma sociedade mais justa e igualitária, mas segue pelo caminho inverso, favorece e aumenta a desigualdade entre os indivíduos.

Paes (2001), referenciando Orlick (1978), sobre a relação esporte e sociedade descreve que:


os jogos e os esportes são reflexos da sociedade em que vivemos, mas também servem para criar o que é refletido. Muitos valores importantes e modos de comportamento são aprendidos por meios das brincadeiras dos jogos esportivos (ORLICK, 1978, apud PAES, 2001, p. 79).


Se por um lado, as práticas esportivas, as ginásticas, as artes marciais, as danças e as práticas para aptidão física estão sendo transformados em produtos comerciais que difundem a ideia da cultura corporal de movimento  e isso é positivo, mas por outro, alguns aspectos são preocupantes: crianças e adolescentes entram em contato precocemente com alguns esportes e práticas corporais inspiradas em modelos para os adultos, o estilo de vida veiculado é sustentado pelas novas condições socioeconômicas (capitalismo/ consumismo, poluição, violência e diminuição dos espaços de lazer) (BETTI; ZULIANI, 2002).

Esse novo modelo de vida tem como ponto de preocupação as inúmeras possibilidades de condições que colaboram para que as pessoas assumam uma postura sedentária e que as crianças e adolescentes aumentem o número de horas em frente aos recursos audiovisuais. Isso favorece, assim, o abandono dos jogos e brincadeiras populares e ainda colabora com uma possível substituição das experiências práticas esportivas pelo simples fato de ser um espectador esportivo (BETTI; ZULIANI, 2002).

Essa dialética da vida contemporânea é um dos maiores desafios que os profissionais da Educação Física tem que enfrentar: 1- temos a propagação das atividades esportivas por meio dos veículos de comunicação, captando assim novos adeptos para essas práticas, que vislumbram o sucesso na vida via esporte (imagem que é vendida), 2- mas para o tão esperado sucesso, o que ocorre é uma precocidade na inserção de crianças ao mundo dos homens, 3- a questão também perpassa  pelo mundo tecnológico, massificador da lógica do capital, cria diversos produtos que prendem a atenção da população em geral, em especial crianças e adolescentes, fazendo com que essa parcela da população se tornem “reféns” de suas invenções, construindo assim uma população mais sedentárias, obesas, com diversas doenças. De protagonizador do esporte o que se têm são espectadores do esporte. 

Em muitos momentos a tarefa do professor não foi a de possibilitar oportunidades a todos os alunos para que pudessem descobrir e vivenciar cultura corporal de movimento, mas, captar os alunos biologicamente mais bem-dotados, treiná-los com o intuito de levá-los a conquistarem espaços em equipes esportivas e, a assim, representarem a escola ou outras instituições. Parece que tal processo de seleção era algo quase que inconsciente no docente, que em muitos momentos habita o imaginário social da educação física escolar, a partir disso, pode-se perceber a dificuldade dos professores em desenvolver os trabalhos em turmas heterogêneas (DAOLIO, 1996).


O professor José Martins Freire Júnior é mestre em educação física e docente nos cursos de educação física da Escola Superior de Cruzeiro - ESC e da UNISAL/Lorena.


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

www.ievale.com.br


Acreditamos no poder transformador do esporte. 


Um comentário:

  1. Boa reflexão, mas como agir em competições escolares por exemplo? Quais critérios utilizar na seleção dos representantes e qual a postura frente a uma competição enquanto professor de Educação física?

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