Texto escrito por Rogério Ribeiro
Nascida, criada, idealizada no século XIX com a função de servir ao “Estado“ como forma de manter o “status quo“, este inicialmente germânico, a ciência geográfica foi moldada por ideias, projetos, metas de um século marcado por conquistas tanto no plano ideológico, como no plano territorial.
Qual o papel da Geografia hoje, em pleno século XXI, passado mais de duzentos anos de seu nascimento?
Moldada para servir ao Estado, com o papel de dominar outros povos, seja através do uso militar, buscando o “ espaço vital “ colocado por Ratzel, ou através da tecnologia, buscando o “gênero de vida“ de Paul Vidal de La Blanche, a Geografia, independente de suas diversas faces, nunca deixou o cenário de conquistas, estando sempre alerta à convocação do Estado.
O espaço vital, como mencionado acima, idealizado por Ratzel, um dos principais integrantes da velha guarda da Geografia, foi emergido na época em que o Estado germânico mantinha suas tropas militares em busca de territórios vizinhos, na alegação que um “Estado só é forte, quando possui terras“, ou seja, o mesmo é essencial para a manutenção do poder. A estratégia de como dominar o inimigo, o melhor caminho, o momento ideal e o melhor ponto, faz da Geografia a ciência fundamental na busca de um novo território, ou seja, na busca do espaço vital.
O gênero de Vida colocado por Vidal de La Blanche, considerado o “pai“ da Geografia Humana, situa-se no mesmo caminho, não tanto pelo uso militar, mas, principalmente pelo uso da tecnologia, do modo de vida, dos costumes, entre outros, como forma de imposição, na busca de um novo gênero de vida.
Dentro desse contexto, o Esporte representou e representa uma ferramenta fundamental para os Estados Nações conquistarem seus espaços vitais e gêneros de vida, seja no aspecto positivo ou negativo. Quando nos deparamos com os campeonatos mundiais e, principalmente com as Olimpíadas, considerado o maior evento esportivo do planeta, temos uma clara nitidez do projeto de domínio proposto pelas principais nações desenvolvidas e emergentes do Mundo.
A disputa por medalhas se entrelaça na disputa por poder, ou seja, a disputa política de um Estado sobre o outro, muitas vezes esquecendo o “Espírito Olímpico“ que deveria se ao principal bandeira das olimpíadas.
Durante a ordem mundial Bipolar e o período da Guerra Fria (1945-1989) essa disputa ficou ainda mais presente e acirrada, onde verdadeiras “máquinas esportivas“ eram criadas nos laboratórios das Universidades, com o objetivo de disputarem os campeonatos mundiais e, assim projetarem politicamente e esportivamente as potências no cenário mundial. Quantos esportistas foram garotos propaganda do Capitalismo e do Socialismo.
A derrota de um atleta representante de uma potência mundial (capitalista ou socialista) era uma “ vergonha “ para o país, demonstrando sinal de fraqueza, empenho ou simplesmente, competitividade. Diversos atletas sofreram verdadeiras humilhações em seus países, enquanto outros, tornaram-se verdadeiros heróis durante o período da Guerra Fria.
Atualmente com a “nova ordem mundial“, ou desordem, como dizem alguns analistas, não temos mais o Mundo dividido em torno de dois polos de poder, mas sobre diversos países e megablocos políticos e econômicos. Não temos mais o Mundo Socialista. Hoje vivemos sobre o espectro das características do Capitalismo. Diante desse contexto, a disputa mundial ficou dissolvida entre várias nações.
Essa multipolaridade demarcou um conjunto de transformações e reorganizou as condições de competição no cenário mundial. Porém, a busca e o domínio do espaço vital e o gênero de vida ainda continua. As principais nações desenvolvidas e emergentes do Mundo disputam cada fatia territorial e humana da superfície terrestre e, o Esporte continua sendo, mesmo em menor escala, como uma ferramenta e um braço das potências nos objetivos dessa conquista.
É preciso que a Geografia e a Ciência Esportiva, atrelada de forma direta ou indireta ao Estado Nação, busquem junto às demais Ciências, uma forma, um caminho, que faça o Homem viver melhor, pois este é o papel da Ciência no Mundo.
O professor Rogério Ribeiro é graduado em Geografia pela UNISAL, graduado em Pedagogia pela UNINOVE, graduado em Gestão Pública pela Kroton e pós-graduado (latos sensu) em Geografia pela UNISAL.
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