quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

A Pedagogia do Esporte e sua quebra de paradigmas


Texto escrito por Luiz Henrique Jordão da Silva Reis

Vivemos numa sociedade onde a vitória é suprema e almejada independente do meio a qual se é conquistada, ora sendo por meio honesto, ora por meios desonestos. Por muitas vezes, lances como o do ex-jogador do São Paulo Rodrigo Caio, agora jogador do Flamengo, onde ele usou o fair play em uma jogada contra o atacante Jô, jogador do seu maior rival Corinthians, se torna cada vez mais enojadas.

E quando levamos esta perspectiva à iniciação esportiva, percebe-se em muitos casos, que há uma supremacia dos mais fortes, sobre os mais fracos. A intensiva busca pela glória torna-se para muitos alunos e iniciantes do esporte, uma experiência traumatizante e excludente, pois são deixados de lados por seus treinadores e professores e ridicularizados pelos seus colegas.

Mas com a pedagogia do esporte, mostra-se que é possível ensinar o esporte de forma que possa ser acessível a todos, não havendo exclusão, se perdendo o conceito de que o importante realmente é a vitória, independente do meio o qual essa vitória foi atingida. 

Expõe ainda que a cooperação e a competição, apesar de serem antônimos na língua portuguesa, podem ser aliadas no esporte. Pois sem a cooperação entre si dentro do time, fica impossível atingir o objetivo do gol/ponto. 

Garganta (1998) mostra a ideia de que existem dois pontos fundamentais dentro da identidade e importância do JECs - a cooperação e a inteligência, sendo essas definidas como: 

Cooperação: entre os jogadores de uma mesma equipe deverá existir cooperação para conseguir chegar à vitória e para cooperar devemos ajudar a desenvolver nos alunos um espírito coletivo de ajuda e colaboração entre si para que o objetivo de fazer o gol/ponto seja atingido. Os JECs se estruturam em ambientes muito favoráveis para que os alunos possam experimentar sua individualidade e suas respectivas características para que possam satisfazer os interesses pessoais e também os interesses da equipe. Freire (2011) reforça esta ideia ao afirmar que o esporte como “o jogo de quem é capaz de cooperar”, considerando a cooperação definitiva no esporte coletivo. 

Inteligência: a capacidade de adaptação a novas situações nas quais o jogo nos coloca, isto é, capacidade de interpretar e adaptar adequadamente aos diversos problemas e situações que ocorrem, durante o jogo de forma ampliada. (GARGANTA,1998) 

Logo, é possível que sejam trabalhadas a cooperação, inclusão e parte socioeconômica de seus alunos. E, além disso, o desenvolvimento do espirito coletivo pelo respeito mútuo e melhora do relacionamento interpessoal com os colegas de classe e time. Aumento significativo pelo apreço às regras, raciocínio rápido e logico pelas situações problemas propostos durante os jogos.

Galatti (2006) diz que a competição, quando tratada de forma adequada, sem valorização exacerbada, pode promover a alegria e o prazer de uma prática que nunca se repete, pois a incerteza presente neste fenômeno, como uma de suas características, pode atuar como um fator de motivação, despertando cada vez mais o interesse pelo esporte.

Galatti (2006) ainda afirma que o momento da competição é um espaço rico para vivência de valores de grupo socialmente desejáveis, tais como a convivência e o reconhecimento do outro, respeito pelas diferençam respeito pelas regras e enquanto um ser dotado de desejos, expectativas e méritos, tanto quanto o eu.

Corroborando, Betti (1997) fala que o professor de Educação Física poderia, em aulas com os alunos, sempre considerar a possibilidade de mudança, se mantendo em resistência contra os estereótipos. Ao invés de medalhas, a satisfação pessoal. Ao invés do esporte-trabalho, o esporte-lazer. Na linguagem das teorias culturalistas, é preciso procurar os espaços para se opor contra a hegemonia.

O esporte tende a ser um instrumento efetivo na aproximação entre pessoas, não somente na vitória sobre o outro em uma partida de futebol, mas sim, na mobilização de uma sociedade cooperativa, onde os problemas sejam levantados por todos e, neste sentido, a comunidade teria realmente um adversário a ser superado (ABRAHÃO, 2004).

Abrahão (2004, p.18) diz que o resultado de um jogo o aluno  esquece em semanas, já os valores vivenciados, através da prática esportiva, podem ser incorporados à sua personalidade. A competição exacerbada pode gerar uma ansiedade que muitas pessoas não conseguem superar, como pode ser uma alavanca no sentido do professor motivar o aluno para que se posicione e defenda sua opinião.

Logo, ensinar não é, e nunca será, tarefa simples e desprovida de responsabilidades. Ao ensinar tem-se o compromisso com o formar. Formar o cidadão que, para se superar e ser sujeito histórico no mundo, necessita desenvolver sua criticidade, sua autonomia, sua liberdade de expressão, sua capacidade de reflexão, sintetizando sua cidadania. Assim sendo, aluno/sujeito/cidadão, lapidado por quem ensina, não será mais aquele que simplesmente se adapta ao mundo, mas o que se insere, deixando a sua marca na história. (SCAGLIA, 1999).


O professor Luiz Henrique Jordão da Silva Reis é bacharel em educação física pela Escola Superior de Cruzeiro (ESC) e estudioso da área de esporte e educação.


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

www.ievale.com.br


Acreditamos no poder transformador do esporte. 

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