segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O papel das Escolas de Esportes na formação da criança

 


Texto escrito por Elcio Júnior

Com o crescimento das cidades, ocorreu uma grande perda para nossa sociedade sendo nossas crianças e jovens os mais prejudicados, pois este desenvolvimento fez com que acabassem os espaços como campos de várzea, ruas tranquilas, praças entre outros lugares onde se constituíam vários atletas para o esporte brasileiro.

O aumento da violência nas últimas décadas é um fator que também contribuiu de forma muito significativa para que gerações posteriores a década de 80 não tivessem a oportunidade de jogar bola e brincar na rua, com um grande aumento de horas à frente da televisão, vídeo game, computadores e atualmente dos celulares (REZER, 2006).

Com esses espaços perdidos e com poucas possibilidades, surgem as Escolas de Esporte, com o objetivo de preencher de uma maneira educativa e recreativa, o vazio que ficou no processo educacional de nossas crianças e jovens (MOTTA, 2001).

O profissional que está a frente de uma Escola de Esporte, precisa entender que o grande desafio do trabalho é proporcionar a vivência esportiva para o maior número de crianças possível e não ficar preso na busca pelo resultado, que fará com que o processo seja excludente e muitas vezes traumático para a criança. 

A busca por resultados em uma única modalidade deve ser algo pensado no futuro, quando o objetivo for a formação de atleta, pensar de uma maneira equivocada, antes do período adequado, faz com que o processo de iniciação esportiva deixe de pensar no que realmente se faz necessário no primeiro momento como o desenvolvimento de fatores como companheirismo, participação, autonomia, criatividade, além da obtenção de uma boa base motora.

Segundo Arena e Bohme (2000) a promoção de atividades esportivas com crianças indicam que o profissional que trabalha com esse público necessita compreender que começar cedo no esporte não é necessariamente começar precocemente o treinamento e a competição regular de uma única modalidade. Pelo contrário, o início da prática esportiva generalizada de diferentes esportes é um aspecto positivo, no sentido de que a preparação esportiva do jovem deve ser um processo permanente de longo prazo. Uma formação esportiva iniciada nos primeiros níveis de escolaridade, desenvolvida por professores de Educação Física preparados, e tendo como principal objetivo o desenvolvimento global e harmonioso da criança, o respeito à individualidade biológica, o conhecimento das particularidades de cada modalidade esportiva, se constituem pressupostos imprescindíveis não apenas para o desenvolvimento ideal como também para a criação de condições ótimas  para o rendimento de alto nível.

A prática pedagógica em Escolas de Esportes necessita ser direcionada para um rumo que as crianças sejam tratadas como crianças, e não como mini atletas. Cumpre estabelecer uma diferença de procedimentos em relação ao esporte de alto nível e ao esporte para crianças (não apenas adaptativo), de maneira que o mundo adulto seja percebido apenas como referência, os conteúdos, processos e meios sejam diferentes não apenas na intensidade, mas também na essência e na profundidade do comprometimento com um projeto que a construção de situações que contribuam com a formação de um ser humano competente, crítico e responsável (REZER; SHIGUNOV, 2004).

Segundo Filgueira (2006) o jogador de qualidade é aquele que vivencia um número enorme de possibilidades e, para cada situação do jogo, ele encontra a melhor. O jogador de hoje tem poucas possibilidades, impostas por rotinas exaustivas e limitadas, portanto, formando um jogador de pouca qualidade, o que torna o jogo de menor qualidade com movimentos estereotipados, sem qualidade. Por isso, estamos cada vez mais frequentemente vendo jogadores de baixo nível técnico e equipes de péssima qualidade.

Para as crianças terem uma vida esportiva prolongada chegando ao esporte de alto rendimento, torna-se necessário que suas experiências motoras e de iniciação esportiva sejam positivas, tanto do ponto de vista psicomotor quanto das dimensões afetivas, sociais e cognitivas.

Todos esses aspectos citados anteriormente nos levam a repensar da prática  de iniciação esportiva em Escolas de Esporte, visando despertar na criança o gosto pela prática esportiva e consequentemente pela atividade física, utilizando-se de uma metodologia que considere o esporte em sua forma global, que busca autonomia do aluno em seus atos e decisões, em harmonia com o desenvolvimento integrado e simultâneo das capacidades coordenativas técnicas, físicas sociais e psicológicas (GRECO; BENDA, 2001).

Enfim, as Escolas de Esportes precisam entender o verdadeiro sentido do processo de iniciação esportiva, não deixando o esporte ser pensado, praticado e ensinado com vantagens e privilégios concedidos a poucos e exclusão de outros, ou seja, é direito comum de todos terem uma formação esportiva rica e repleta de possibilidades.


O professor Elcio Júnior é especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo (ESC); Treinamento Desportivo (CEFIT); e Treinamento de Força e Musculação (CEFIT). Coordenador de Esportes do Clube Comercial de Lorena. Coordenador da Pós-Graduação em Ciência do Esporte (UNIFATEA/SPORT TRAINING) Lorena; Docente no curso de Educação Física no UNIPLAN.


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

www.ievale.com.br


Acreditamos no poder transformador do esporte.

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