sábado, 19 de dezembro de 2020

Competição e Formação nas categorias de Base do futsal/futebol e suas divergências


Texto escrito por Rodolfo Zanin

Atualmente nas categorias de base do futsal e futebol, podemos ver uma certa ansiedade, onde o vencer tende a vir, a qualquer custo e como prioridade, por parte dos profissionais, pais e gestores de clube excluindo em algumas situações a formação. Claro que ganhar é importante para a criança e para visibilidade de quem desenvolve o trabalho e para a instituição ligada, pois ninguém executa nenhuma ação ou um projeto sem um objetivo prévio de conquistas, mais o que iremos discutir aqui é a forma como se ganha e onde estamos chegando atualmente, e o que nós como profissionais da área de esportes (Futsal/Futebol), que somos influenciadores direto na formação de uma criança estamos entregando de resultado a sociedade e modalidade.

Quando o assunto é competição devemos levar em conta o aspecto humano pois somos em essência competidores desde da corrida pra ovulação dos espermatozoides, onde só teremos um vencedor. Fazendo uma ligação com a vida animal temos a competição nata também, onde na África todos os dias ao nascer do sol um leão para se manter vivo precisa se alimentar e com isso o mesmo precisa ser mais rápido que uma zebra e captura-la para realizar a sua primeira refeição do dia e a presa zebra ao mesmo tempo tem a dura missão de participar deste processo em busca da vitória, pela manutenção da sua existência e de dar sequência em suas gerações como o leão também. 

O que quero citar comparando os fatos acima é que a competição é essência seja na vida humana ou na vida animal, mais nós seres humanos como seres racionais, devemos equilibrar o teor competitivo na nossa vida. 

Mas agora voltando ao tema principal que é a competição e formação, nas categorias de base do futsal/ futebol devemos dar prioridade somente a competição? Ou doses do grau importância de competir para que tenhamos êxito na formação?

Segundo Leite: o primordial nas categorias de base é a identificação do âmbito social e da faixa etária envolvida no trabalho, onde a metodologia e intensidade de cobrança por resultado devem variar para que competição e formação sejam aliados. 

O que de fato é visto hoje, nas categorias de base no nosso país é a divergência entre as ideias e ações de profissionais (técnico/ staff) que executam o trabalho e gestores (coordenação/direção) onde podemos citar vários problemas que atrapalham o processo de formação e o entendimento do verdadeiro valor da competição na  formação. 

Para Monte o atleta na formação precisa entender o valor da competição e que podemos sim como profissionais, traçar um caminho para se formar vencendo.

Um dos problemas a serem citados e a falta de tempo e o modo execução no desenvolvimento do planejamento algo que o Brasileiro em si, tende a ter dificuldade ao executar, pois exige uma disciplina e recreação de ideias sem perder o objetivo inicial do que foi proposto. 

No âmbito do desenvolvimento do trabalho, o profissional que executa muitas vezes falha neste processo devido a pressão pelo resultado imediato, falta de estrutura em algumas situações,  pelo próprio ego só em vencer para que se alcance uma maior visibilidade profissional e fatos como estes citados atrapalham em muito o desenvolvimento de atletas, pois em alguns casos, o que se é aplicado como metodologia dentro do planejamento de treino, está fora da realidade da faixa etária e da necessidade real da criança em se desenvolver tratando o assim como um mini adulto.

Devido à alta carga de informações encontradas atualmente nas redes sociais muitos dos profissionais buscam como forma de atualização de metodologia de trabalho, em cursos e vídeos como atividades aplicadas em locais longe da sua realidade, e aí que mora o grande problema, pois temos a dificuldade de organizar ideias e estruturar o que aprendemos ao que necessitamos, pois o treino da equipe x muitas das vezes pode ajudar ou não o trabalho, porque falo isto, pois a realidade de necessidade dos atletas envolvidos são diferentes, deixando bem claro que os vídeos são de grande valia mas será que estamos organizando e aplicando da maneira correta. Pois querendo ou não, é um ponto direto que pode ser prejudicial na formação.

Atrelado aos fatos anteriormente podemos complementar a discussão, com a questão cultural, nosso país só é prestigiado o vencedor (campeão). Muitos pais que em muitas vezes buscam o imediatismo do resultado pois querem o sucesso do teu filho a todo custo ou até a realização de um sonho seu, pessoal, em cima da vida da criança. Fatos que acabam por causar uma bola neve em torno da vida e do desenvolvimento da criança.

O ex-jogador de futebol Alex, em entrevista neste último ano de 2020, no instagram do grande professor Paulo Cesar de Oliveira, citou que trata como primordial a formação e o desenvolvimento da relação com a bola do filho dele, ocasionado assim uma despreocupação sobre o fator prioritário de ser campeão na base, um dos poucos casos visto na atualidade relacionados a pais de atletas. 

Vaz cita que professores/treinadores, devem ser agentes transformadores e ensinar/ treinar o ser humano em sua integridade. Entretanto creio que tanto a competição quanto a formação, não podem ser taxadas uma mais importante que a outra e sim devem ser aliadas no processo de vida da criança como atleta e como pessoa, o que pode colaborar para que este processo seja de forma mais sensata, é um melhor entendimento das ações, planejamentos e da forma que é repensado as estratégias por partes dos gestores e professores. 

E claro um diálogo sensato para que os pais colaborem no percorrer deste caminho. Pois diferentes de outros países temos dado passos atrás no quesito de descoberta de novos talentos na modalidade e na entrega de seres humanos com valores e autocríticos a sociedade, devido à falta de sensibilidade e gestão destas duas vertentes, temos como exemplo a Alemanha de 2014 que mudou sua forma de fazer e pensar o futebol e colheu os frutos na copa de 2014, tendo 6 (seis)  atletas da equipe campeã mundial passando pelas seleções de base até chegar à seleção principal.

Contudo precisamos reciclar a ideia brasileira que sempre pensa no próximo jogo ou no próximo campeonato e traçar planos que entreguem novos talentos no esporte e na vida. E claro continuar discutindo ideias e formas de se fazer o futebol/futsal na base é o primeiro passo. 


O professor Rodolfo Zanin é bacharel em Educação física, pós-graduado em Futebol e Futsal e Técnico da categoria sub 12 do Grêmio União Futsal (Pindamonhangaba).


O Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

www.ievale.com.br


Acreditamos no poder transformador do esporte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário