domingo, 6 de dezembro de 2020

Educação Física e a Pessoas com Deficiência

 


Texto escrito por Natalia dos Santos 

O modelo médico, com suas raízes na Idade Média, influenciou diferentes áreas e profissões na sociedade. Dentre suas características tem a necessidade de categorização do indivíduo e por buscar padrões normativos. Na área da educação física não foi diferente, o modelo médico interferiu diretamente nas atividades, e sua relação com as pessoas com deficiência fez surgir a Atividade Física Adaptada que segundo Cratty (1975, apud MAUABERG-DECASTRO, 2011, p. 32) é um “programa diversificado de atividades desenvolvimentistas, aquáticas, rítmicas e expressivas, de jogos e de esportes cuja organização baseia-se em interesses e capacidades de indivíduos com deficiência [...]”. 

 A primeira proposta de Educação Física para pessoas com deficiência no Brasil surge em meados de 1958, com práticas voltadas ao modelo médico, por meio de exercícios corretivos e preventivos relacionados às questões patológicas da deficiência. Além do enfoque médico o esporte apareceu nesse cenário com o objetivo de inserção social da pessoa com deficiência, trazendo assim o Esporte Adaptado, modalidades esportivas criadas exclusivamente para pessoas com deficiência (COSTA; SOUSA, 2004; MAUERBERG, CASTRO, 2011).  

Enquanto a Educação Física teve forte influência de uma concepção de modelo de corpo perfeito e práticas voltadas ao desempenho físico e motor, a Educação Física Adaptada (EFA) se organizou para atender os excluídos, as pessoas com deficiência. 

O surgimento da Educação Física no Brasil como obrigatório dentro do contexto escolar se deu em meados do século XIX, mais precisamente em 1821 com a reforma denominada Couto Ferraz. Denominada como Ginástica, a Educação Física muito vinculada ao Modelo Higienista, deveria disciplinar e corrigir o corpo  (NEVES, 2006; XAVIER; MARRA; PIAU, 2004). 

Durante o século XX, segundo Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), a Educação Física Escolar no Brasil sofreu influência dos diferentes contextos no qual estava inserida, seguindo as referências políticas e educacionais e utilizada para atender os interesses das tendências do período a qual pertencia.  

Ainda no século XX, em especial na década de 70, que foi marcada pela inserção do esporte como fator que “desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando” (BRASIL, 1998, p. 21), essa valorização foi um investimento do governo militar que comandava o Brasil. Essa esportivização iniciou uma busca por talentos nas Educação Física Escolar, fazendo com que os professores dessem ênfase a aptidão física de seus alunos nas aulas, apoiados em uma pedagogia tecnicista (BRASIL, 1998; NEVES, 2006). 

A década de 80 foi marcada por questionamentos sobre os modelos e objetivos da Educação Física Escolar apresentado até então. Havia um interesse em retirar da escola a necessidade de formar atletas, uma vez que essa intenção não obteve o sucesso esperado. Os debates originados por estudiosos e interessados da área começaram a questionar sobre o papel e a dimensão da Educação Física através das teorias críticas da educação (BRASIL, 1998). 

A Educação Física Escolar na perspectiva inclusiva deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos, junto com as demais disciplinas são responsáveis pela garantia de acesso e participação dos educandos, respeitando e assegurando direito à educação (MANTOAN, 2015). 

Atualmente a presença desses alunos nas escolas e salas de aula regulares é garantida por lei e essa garantia de direitos ao acesso e permanência, fizeram aumentar o número de matrículas. Assim, os atores envolvidos nos cenários educativos foram provocados a repensar suas práticas diante das novas propostas de ensino, que caminha na contra mão do ensino integracionista que marcou durante anos os ambientes escolares brasileiros, com salas de aulas especiais e as escolas de educação especial (REIS; MOTA; JESUS, 2017). 

Segundo Mantoan (2015, p. 28) “a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge apenas alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais”.   

Assim, entre os atores da educação responsáveis por atender esse contingente de alunos tem-se o professor de educação física, que busca a efetivação da inclusão das pessoas com deficiência dentro de suas aulas (FIORINI, 2011). 

A educação física inclusiva apresenta uma série de desafios aos professores e é preciso que se compreenda verdadeiramente sua concepção e a absorva para que repense a prática pedagógica e elabore aulas em que a diversidade humana é respeitada, possibilitando uma participação efetiva de todos os alunos. Segundo Fiorini (2011, p. 20) “o professor é o principal mediador do processo de ensino e de aprendizagem de habilidade esportivas e motoras de alunos com e sem deficiência”.  

A maneira como uma pessoa se relaciona frente ao sujeito com deficiência tem relação direta com sua percepção sobre o assunto. Carregados de seus entendimentos individuais sobre a inclusão, os professores foram desafiados a repensar suas aulas e atuar na perspectiva da Educação Física Inclusiva (VALLE; CONNOR, 2014).

Assim, fica a reflexão. Qual concepção sobre inclusão está presente em suas aulas diariamente? 


A professora Natalia dos Santos é especialista em Esportes e Atividades Físicas Inclusivas para Pessoas com Deficiência e docente dos cursos de Pós-Graduação de Educação Física Escolar nas Universidades FMU e Estácio. 


Instituto Esporte Vale atua na formação de profissionais competentes para o ensino do esporte. 

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